sexta-feira, 24 de abril de 2009

0995) A lista de Parreira (25.5.2006)



Saiu a lista de convocados para a Copa do Mundo! Nos sismógrafos dos botequins da Pátria, as agulhas deram uma tremidinha besta, e nada mais. Há anos não vejo uma lista tão pouco polêmica. A safra é boa, e o trabalho de Parreira e Zagalo está se impondo com um futebol vistoso e eficiente. Podem ser lamentadas algumas ausências: o ótimo goleiro Marcos; o lateral Júnior, que fez uma boa Copa em 2002 e está bem no São Paulo; e há quem sinta saudade de Roque Júnior. Mesmo assim, o grupo é excelente. Se vai ganhar ou não (ou se vai passar da primeira fase ou não) são outros quinhentos, os quinhentos que fazem o fascínio do futebol.

Fiquei contente com a convocação de dois jogadores que admiro há muito tempo: Juan e Juninho Pernambucano. Os dois não têm muito lobby, não são bons de marketing, e não vivem nesse culto desenfreado à mídia. Talvez acabem ficando meio obscurecidos por jogadores mais badalativos e sem um décimo do talento deles. Nos mais de dez anos em que vi Juan jogar no Flamengo não o vi dar mais do que meia dúzia de entrevistas, sempre lacônicas. É um zagueiro clássico, com suficiente força para bloquear um atacante maior do que ele, e com suficiente domínio de bola para sair jogando de cabeça erguida. E ótimo cabeceador, tanto para rebater na própria área como para fazer gols na área oposta.

Juninho Pernambucano era jogador do Sport, mas só vim a conhecê-lo com a camisa do Vasco, time pelo qual não morro de amores. Mas já assisti na TV muito jogo Vasco x América ou Vasco x Bangu para vê-lo distribuir jogo com clarividência, matar a bola com maestria, e bater faltas como pouca gente bate no mundo. Juninho apareceu na imprensa muito mais do que Juan, mas por uma causa nobre, quando encarou e bateu de frente com o Poderoso Chefão vascaíno, Eurico Miranda. Acossado e ameaçado por todos os lados, Juninho pagou pra ver e conseguiu desligar-se do Vasco (era uma confusão em torno de venda de passe, percentagens, etc.) e agora, na França, ajudou o Lyon a ser pentacampeão francês.

São jogadores talentosos, sérios, “na deles”. Isso não quer dizer que eu não goste de jogadores brincalhões e extrovertidos como Ronaldinho Gaúcho, Robinho ou Ronaldo. Mas é que hoje em dia inventaram esse tal conceito de “jogador com personalidade”. Para a imprensa que cultiva este slogan, jogador com personalidade é aquele que pinta o cabelo de azul, e passa o jogo inteiro insultando o juiz com o dedo em riste e tirando lascas das canelas dos adversários. O oposto simétrico deste é o jogador cheio de santimônias, que se diz evangélico, agradece pessoalmente a Jesus Cristo cada gol que marca, mas vive fazendo armação para derrubar o técnico.

Juan e Juninho (e Ronaldo, Ronaldinho, e quase todos os outros) são o que o nosso futebol tem de melhor para oferecer. Tomara que ganhem a Copa. E se tiverem que perdê-la, que a percam para alguma seleção que até hoje não ganhou, como Japão ou Angola.

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