Em japonês, “chindogu” significa “objeto estranho”, mas talvez a melhor palavra para traduzi-lo seja o neologismo criado por Paulo Leminski: “inutensílio”. Ao que se diz, o conceito foi criado pelo escritor e inventor Kenji Kawakami num livro publicado na década de 1990 sob o título 101 Invenções Inúteis Japonesas: A Arte do Chindogu. Kawakami imagina (e fabrica) acessórios do cotidiano que são práticos, lógicos, e ao mesmo tempo absurdos, incapazes de ser utilizados. Como por exemplo o seu chapéu para alérgicos, que vem com um rolo da papel higiênico montado no topo. Para sujeitos com rinite, como eu, que às vezes passam o dia inteiro espirrando e assoando o nariz, pode haver algo mais providencial? E menos utilizável?
Tem o protetor contra manchas de molho, uma espécie de “babador” circular em volta do rosto inteiro, que ninguém teria coragem de usar nem em casa, quanto mais num restaurante. Tem a Roupa de Banho Completa, uma espécie de bolha de plástico para pessoas com alergia a água. Tem o Esfregão Para Bebês: enquanto se arrastam de quatro, eles dão polimento na cera do assoalho. Para pouparmos tempo, leitor, vá no saite: http://www.chindogu.com/, ou leia esta matéria: http://www.japaninc.net/article.php?articleID=762.
A primeira coisa que me veio à memória ao ver os chindogus de Kawakami foram as invenções abstrusas do pessoal da revista Mad, como os parangolés mecânicos de Al Jaffee ou as armas dos espiões (“Spy vs. Spy”) de Alex Prohias. Há também as engenhocas de Rube Goldberg, já comentadas aqui (“A economia Rube Goldberg”, 10.12.2003), e as invenções malucas do marselhês Jacques Carelman, cujo Catálogo de Objetos Inviáveis foi editado em 1976 pela Nova Fronteira...
Vou parar a enumeração, pois este jornal inteiro não teria espaço. Estes, caro leitor, são indivíduos que vivem num mundo mais belo e mais livre do que o nosso. Pressionados por uma cultura onde tudo tem que ter valor (seja de uso ou de troca), onde tudo responde ao Mercado, onde tudo tem utilidade e função, estes discretos cronópios correm todos para o prato oposto da balança, e dedicam-se a produzir inutensílios, desaparelhos, futilidades domésticas.
É um gesto filosófico e um gesto político. Com a palavra Kawakami: “Um chindogu é um objeto inútil, mas nem todo objeto inútil é um chindogu” E ele enumera características para que algo seja um chindogu: “Um chindogu não é para ser usado de verdade. Um chindogu tem que ser algo que possa ser materialmente fabricado. Cada chindogu traz em si o espírito da anarquia. Um chindogu tem que ser um objeto simples, da vida cotidiana. Um chindogu não pode ser vendido. Um chindogu não pode ser criado por razões apenas humorísticas. Um chindogu não pode servir para propaganda. Um chindogu não deve servir para piadas obscenas ou vulgares. Um chindogu não pode ser patenteado. Um chindogu não pode aderir a preconceitos.” Pois é. Quem foi que disse que o mundo estava perdido?
Tem o protetor contra manchas de molho, uma espécie de “babador” circular em volta do rosto inteiro, que ninguém teria coragem de usar nem em casa, quanto mais num restaurante. Tem a Roupa de Banho Completa, uma espécie de bolha de plástico para pessoas com alergia a água. Tem o Esfregão Para Bebês: enquanto se arrastam de quatro, eles dão polimento na cera do assoalho. Para pouparmos tempo, leitor, vá no saite: http://www.chindogu.com/, ou leia esta matéria: http://www.japaninc.net/article.php?articleID=762.
A primeira coisa que me veio à memória ao ver os chindogus de Kawakami foram as invenções abstrusas do pessoal da revista Mad, como os parangolés mecânicos de Al Jaffee ou as armas dos espiões (“Spy vs. Spy”) de Alex Prohias. Há também as engenhocas de Rube Goldberg, já comentadas aqui (“A economia Rube Goldberg”, 10.12.2003), e as invenções malucas do marselhês Jacques Carelman, cujo Catálogo de Objetos Inviáveis foi editado em 1976 pela Nova Fronteira...
Vou parar a enumeração, pois este jornal inteiro não teria espaço. Estes, caro leitor, são indivíduos que vivem num mundo mais belo e mais livre do que o nosso. Pressionados por uma cultura onde tudo tem que ter valor (seja de uso ou de troca), onde tudo responde ao Mercado, onde tudo tem utilidade e função, estes discretos cronópios correm todos para o prato oposto da balança, e dedicam-se a produzir inutensílios, desaparelhos, futilidades domésticas.
É um gesto filosófico e um gesto político. Com a palavra Kawakami: “Um chindogu é um objeto inútil, mas nem todo objeto inútil é um chindogu” E ele enumera características para que algo seja um chindogu: “Um chindogu não é para ser usado de verdade. Um chindogu tem que ser algo que possa ser materialmente fabricado. Cada chindogu traz em si o espírito da anarquia. Um chindogu tem que ser um objeto simples, da vida cotidiana. Um chindogu não pode ser vendido. Um chindogu não pode ser criado por razões apenas humorísticas. Um chindogu não pode servir para propaganda. Um chindogu não deve servir para piadas obscenas ou vulgares. Um chindogu não pode ser patenteado. Um chindogu não pode aderir a preconceitos.” Pois é. Quem foi que disse que o mundo estava perdido?
Isso é que é tirar leite condensado de granito. Delicioso.
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