Leitores habituais desta coluna terão constatado a minha admiração talvez excessiva, mas nunca injustificada, pela obra de Jorge Luís Borges. Volta e meia, aqui estou eu recorrendo a um exemplo ou a uma citação borgiana para elucidar esta ou aquela questão. A verdade é que leio Borges há 33 anos, e num cálculo superficial constato que tenho cerca de 45 livros dele (ou sobre ele) em minhas estantes. É o segundo escritor de quem possuo mais livros (o primeiro é Ellery Queen), e um dos que conheço mais a fundo. Em vista disto, peço licença para divulgar o lançamento da antologia Contos Fantásticos no Labirinto de Borges, que organizei para a editora Casa da Palavra (Rio), e que estará sendo lançada oficialmente hoje no Rio de Janeiro. Haverá um debate na Livraria da Conde, no Leblon, onde estarei ao lado da escritora Heloísa Seixas, ela também autora e editora de antologias de contos fantásticos.
Borges tem sido incluído dentro da onda do “realismo mágico latino-americano” desde a década de 1960, o que talvez não lhe tenha sido muito favorável. O rótulo de Realismo Mágico tem sido associado prioritariamente a escritores muitíssimo diferentes de Borges: Garcia Márquez, Miguel Ángel Astúrias, Juan Rulfo, Manuel Scorza e outros. Escritores com uma forte influência rural, com narrativas impregnadas de ambiente (o que as aproximava do romance regionalista) mas que transcorrem num plano supra-real, misturado a elementos do mito, da lenda e do sonho. Descrevem a sociedade patriarcal e caudilhesca da América Latina, de mistura com elementos fantásticos e sobrenaturais. Um tipo de literatura que no Brasil foi praticada em obras como Incidente em Antares de Érico Veríssimo, Dona Flor e seus dois maridos de Jorge Amado, e outros.
Se o que Borges faz é Realismo Mágico, então é de uma natureza totalmente diversa, e é o que procuro examinar nesta antologia, que reúne 18 contos de autores cuja influência Borges sempre admitiu (Kafka, Poe, Stevenson, Léon Bloy, Chesterton, Hawthorne, Wells) e de outros que ele lia e apreciava, embora muita gente não saiba: Ray Bradbury, Lord Dunsany, Marcel Schwob... e Ellery Queen. Os contos selecionados usam temas muito próximos a alguns dos temas preferidos de Borges (o livro impossível, o tempo cancelado, o objeto com um lado só, o labirinto, o objeto inesquecível, etc.), e mostram que o fantástico, em Borges, está mais próximo do Fantástico europeu do século 19 do que do Realismo Mágico latino-americano do século 20.
Toda antologia deve valer pelos contos que apresenta, e não pelos textos teóricos que os acompanham. No presente caso, todos os contos têm enredos e situações fascinantes, além de serem de grande interesse para um eventual leitor de Borges. Vários deles, pelo que sei, estão sendo publicados no Brasil pela primeira vez. Confiram no saite da editora: http://www.casadapalavra.com.br/.
Curiosamente, este texto apareceu bem quando estou terminando de ler justamente este livro.
ResponderExcluirSe um conto de Ellery Queen é magnífico, imagine várias prateleiras de Ellery Queen!
Estou lendo aos poucos os contos do livro, para o efeito maravilhante durar mais. Excelente coletânea. Achei muito bonito o conto de Lonrd Dunsany. Uma pena que não há mais obras dele no mercado brasileiro. Estou considerando importar O Livro do Deslumbramento de Portugal.
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