domingo, 11 de janeiro de 2009

0736) A revista “Seleções” (28.7.2005)



Neste mês de julho saiu às bancas nos EUA o número 1.000 da revista Seleções do Reader’s Digest. Ao que parece são 83 anos de existência, e uma fórmula que foi muito imitada (Coronet, Coletânea, etc.) mas sem o mesmo sucesso. Seleções é como Coca-Cola: sou contra, em vários aspectos, mas uso mesmo assim. Quando consegui meu primeiro emprego aos 15 anos, com meu primeiro salário do Diário da Borborema comprei uma coleção com mais de vinte anos de exemplares de Seleções na banca de Henrique, no Calçadão (não era calçadão na época, era uma rua com um ponto de táxis). Eram revistas de 1942 a 1965, se não me engano, umas encadernadas, outras soltas. Todo dia ao sair do jornal eu passava lá e levava um pacote pra casa.

Seleções era uma revista virulentamente anti-comunista, e as coisas arrepiantes que li sobre o comunismo naquelas páginas talvez tenham me servido como um atenuante prévio contra as doses cavalares de Materialismo Dialético que vim a absorver cinco anos depois. Era também uma revista que combatia o fumo, e os casos cancerígenos que relatava me mantiveram a uma distância prudente do Continental e do Hollywood. Uma das coisas que eu mais gostava era a “Seção de Livros”, em que um livro de 400 páginas era reduzido a confortáveis 40. Mas o melhor de tudo eram as piadas, e já fiz muito sucesso em mesa de bar com o repertório decorado em “Piadas de Caserna”, “Flagrantes da Vida Real” ou “Rir é o Melhor Remédio”. Dizem os jornais que nessas oito décadas a revista publicou 100 mil piadas, pagando 25 milhões de dólares por elas.

Seleções é um ovo-de-Colombo editorial. Em suas primeiras décadas publicava poucos artigos originais: era quase tudo recolhido de outras revistas e jornais. Como jogavam a rede longe, sempre havia coisas interessantes colhidas em publicações obscuras. A variedade de assuntos era notável. Ainda tenho em minhas estantes algumas compilações temáticas, como As Melhores Histórias Reais de Crime, Mistério e Suspense e O Grande Livro do Maravilhoso e do Fantástico. Se eu não fosse leitor de Seleções, amiguinhos, não faria uma coluna como esta, onde o cara saltita de tema em tema como um passarinho de galho em galho. Para o bem ou para o mal, foi assim que formatei meu juízo.

A revista avalia ter hoje um público leitor de 41 milhões de pessoas; imagino que este número se refira aos EUA, visto que há edições em outras 19 línguas, vendidas em mais de 60 países, inclusive o Brasil. É uma revista TV, uma revista de variedades que corresponde bem ao gosto por tudo que é rápido, superficial mas informativo, colagem de fatos e opinião, humor, utilidades, conselhos práticos, pílulas de auto-ajuda, ficção e não-ficção misturadas. O que me espanta não é que tenha chegado aos mil números, é que tenha formatado tantas revistas que vejo hoje nas bancas, e tenha sido engolida por elas.

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