quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

0707) O mistério de Kryptos (24.6.2005)


(Kryptos)

Os especialistas o colocam entre os dez códigos não-decifrados mais misteriosos de nosso tempo, comparável ao “Manuscrito Voynich” (v. artigo em 14.8.2004). Ao contrário deste, contudo, Kryptos tem autor conhecido e vivo: é o escultor americano Jim Sanborn, de Washington, que contou com a ajuda do criptologista Ed Scheidt, na época chefe do Departamento de Criptografia da CIA. “Kryptos” é um conjunto de objetos espalhados pela sede da CIA em Langley (Virginia), dos quais o mais importante é uma escultura em metal com mais de 2 metros de altura, como uma folha de papel dobrada em forma de S, coberta de letras. O conjunto todo contém milhares de caracteres em código com pelo menos quatro partes distintas, e foi instalado no QG da CIA em 1990, ao preço de 250 mil dólares.

A idéia de Sanborn parece ter sido a de plantar, no meio dos maiores especialistas em códigos dos EUA, uma mensagem misteriosa para provocar sua curiosidade e pôr à prova seu talento. O próprio Sanborn confessa ter achado que eles levariam alguns meses para solver o quebra-cabeça; quinze anos se passaram, e apenas três partes foram decifradas (por David Stein, da CIA, em 1998, e depois por Jim Gillogly, em 1999), restando um bloco de 98 caracteres que ninguém sabe o que significam. Eis o trecho não-decifrado de Kryptos: “?OBKR UOXOGHULB SOLIFBBWFLRVQQ PRNGKSSO TWTQSJQSSEKZZ WATJKLUDIA WINFBNYP VTTMZFPKW GDKZXTJCDIG KUHUAUEKCAR”. Eu tenho cá uma vaga noção do que quer dizer, mas não quero estragar o prazer dos colegas.

Criptografia é um negócio meio chato, pra quem não gosta. Pra quem gosta, é mais fascinante do que contar dinheiro. Que o diga Gary Philips, um cara de 27 anos que largou sua companhia de software em Michigan para se dedicar totalmente à decifração do enigma. Diz ele: “Kryptos me trouxe de volta à minha primeira paixão. Senti-me novamente livre para enfrentar um desafio sem ninguém para me dizer faça-assim ou faça-assado”. Pessoas como Sanborn ou Philips são indivíduos que (teoria minha) têm muito desenvolvida a “faculdade letranumérica” do lado esquerdo do cérebro, pessoas que são boas com letras e números, e extraem da manipulação destes signos um prazer quase erótico. Gente como Jorge Luis Borges, Edgar Poe, Raymond Queneau, Guimarães Rosa, Ellery Queen, Julio Verne, Georges Perec e o locutor que vos fala.

Kryptos ganhou enorme publicidade quando foi revelado que Dan Brown, autor do Código da Vinci (livro recheado de criptogramas) reproduziu trechos da escultura na capa da edição americana de seu livro. Quem quiser se aprofundar vá ao saite da criptologista Elonka Dunin, que tem uma fartura de informações e fotos: http://www.elonka.com/kryptos/. E não venham me perguntar para que serve isso. É como o xadrez, as palavras cruzadas, os palíndromos e anagramas, a poesia concreta, os trava-línguas. Serve para fazer cosca num pedaço do cérebro que umas pessoas têm e outras não.

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