quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

0683) A volta de Hitler (27.5.2005)



Os 60 anos do fim da II Guerra e o lançamento de um filme sobre os últimos dias de Adolf Hitler têm trazido esta ominosa figura de volta à imprensa. Diz-se muita besteira sobre Hitler por aí, e o pior é que são besteiras bem-intencionadas. Criticaram o tal filme porque ele “humanizava” Hitler, mostrava Hitler “como uma pessoa normal”, com momentos de bom-humor, de gentileza para com os outros, etc. Esses críticos devem achar que para evitar que o Nazismo volte basta demonizar a figura de Hitler, dizer que ele comia criancinhas (como se dizia dos comunistas), que era coprófago, não escovava os dentes e tinha doenças venéreas. Ou seja: deve-se emporcalhar o máximo possível a imagem do cara, para que ninguém no futuro queira se parecer com ele.

As obras de Hitler são liberadas no Brasil? Duvido. Proíbem, por medo de contaminação. E olhe que o Brasil é uma democracia onde todos têm o livre direito à informação e a expressar suas opiniões – se bem que basta ser Deputado, como Ronaldo Caiado, para obrigar a Justiça a proibir um livro onde ele é acusado de querer esterilizar as mulheres nordestinas. (O interessante é que o Governo, por um lado, proíbe os livros de Hitler, mas dá asas aos seus seguidores, permitindo que indivíduos como o nobre Deputado que advoga essa “Solução Final” tenham um cargo eletivo e façam tais propostas)

Todo mundo tem suas curiosidades. Eu li Mein Kampf aos 19 anos, mesma idade com que li o Manifesto Comunista, bem como os Protocolos dos Sábios de Sião. Era o tempo da ditadura militar, mas todos estes livros estavam disponíveis na Biblioteca Pública de Belo Horizonte. Se a simples exposição a eles fosse garantia de contaminação eu estaria ferrado, mas não era. Li todos, lembro de muito pouca coisa, e dos três confesso que somente o de Marx parecia fazer um pouco de sentido, porque se fundava em raciocínios, não em preconceitos. De lá para cá, li dezenas de livros sobre Política: socialismo, comunismo, nazismo, fascismo, anarquismo. E de tudo só me sobrou uma conclusão: “A Direita nunca me enganou. A Esquerda, já”.

Não reivindico a reedição dos livros de Hitler; tenho mais o que fazer. Mas demonizar uma figura histórica sempre dá problemas lá na frente. Dá a Hitler um valor que nem na Guerra ele teve. Quando Hitler apareceu, ganhou simpatizantes pelo mundo porque o Império Britânico era a Grande Potência, como os EUA de hoje. Ninguém agüentava mais tanto poderio e tanta arrogância. Surge um maluco na Alemanha batendo de frente com o Império, aí muita gente aplaude, como aplaudem hoje Bin Laden por enfrentar os americanos: “Esse é o Cara!” E o cara acaba se transformando numa espécie de Antonio-Conselheiro Bizarro, pelo simples fato de estar enfrentando o Governo dos Governos. Batendo de frente com os EUA, Bin Laden (como Hitler) induz todo mundo a pensar falsamente que se trata de uma briga de Davi contra Golias – e a torcer pelo falso Davi.

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