(Quadro digital de Ray Caesar)
O artista gráfico Ray Caesar http://www.raycaesar.com/pages/GalleryIndex.html) diz que toda vez que desliga seu computador fica imaginando para onde foram todos os seus trabalhos. Isto me lembra Jorge Luis Borges, que quando era pequeno ficava maravilhado com o fato de as letras dos livros não se embaralharem todas durante a noite, depois que apagavam-se as luzes da biblioteca e todo mundo ia dormir.
Como tanta coisas que as crianças dizem, a idéia de Borges faz sentido. Mais do que a “fisicalidade” dos livros e das letras ele percebia, intuitivamente, que aquelas superfícies brancas com pequeninas manchas de tinta negra não eram “a coisa em si”, eram uma mera representação gráfica de sons. As sílabas escritas “cachorro” representam a palavra falada, que por sua vez representa a criatura propriamente dita. Daí é somente um passo para acreditar, como acreditava Borges seguindo a batuta de Platão, que as criaturas físicas do nosso mundo também são meras representações de idéias abstratas, “arquétipos platônicos” que existem numa super-realidade que nos é inacessível.
Aí, é claro, entra uma outra discussão, que não vou resolver aqui porque a Humanidade inteira não resolveu nestes milênios todos: no mundo dos arquétipos platônicos existe o arquétipo Cachorro, representando todos os animais desse tipo, ou há arquétipos específicos – o Pitbull, o Galgo, o Lulu da Pomerânia? Porque se admitimos que há um Modelo Metafísico para cada um, é apenas um passo para admitirmos a possibilidade de que haja um Arquétipo para meu cachorro, e outro para o cachorro do vizinho. Ou seja: uma diluição e multiplicação que acaba por tornar desnecessário o próprio conceito de Arquétipo.
Voltemos ao artista gráfico. O que faz ele? Produz cenários e bonecos virtuais, em 3-D, moldando imagens com o mouse e o teclado. É como lidar com massinha-de-modelar, só que virtual. Depois de modelar as formas, é só selecionar uma textura (pele humana, pedra, madeira, palha, etc.) e aplicá-la sobre a forma. Tudo isto é visível no monitor, e resulta em curiosas (e um tanto mórbidas) casas de bonecas onde é sugerido um clima de inquietação e ameaça. Mas o comentário do artista é: “Para onde vão todas as minhas obras, quando desligo o computador?” Porque elas não têm existência física. São um mero conjunto de instruções matemáticas que, no interior do programa de design que ele utiliza, são reproduzidas no monitor como imagens coloridas. No momento em que o monitor é desligado, a imagem se evapora, e tudo que sobra são as instruções matemáticas gravadas no HD. Arquétipos platônicos, fórmulas abstratas, equações gravadas em bits numa superfície de silício.
Diz Ray Caesar: “Me fascina saber que este espaço tridimensional continua a existir noutro nível de realidade quando desligo o computador. Ele existe, mas como uma probabilidade matemática, e me inquieta pensar que este universo onde também existimos possa ter a mesma natureza.”
Como tanta coisas que as crianças dizem, a idéia de Borges faz sentido. Mais do que a “fisicalidade” dos livros e das letras ele percebia, intuitivamente, que aquelas superfícies brancas com pequeninas manchas de tinta negra não eram “a coisa em si”, eram uma mera representação gráfica de sons. As sílabas escritas “cachorro” representam a palavra falada, que por sua vez representa a criatura propriamente dita. Daí é somente um passo para acreditar, como acreditava Borges seguindo a batuta de Platão, que as criaturas físicas do nosso mundo também são meras representações de idéias abstratas, “arquétipos platônicos” que existem numa super-realidade que nos é inacessível.
Aí, é claro, entra uma outra discussão, que não vou resolver aqui porque a Humanidade inteira não resolveu nestes milênios todos: no mundo dos arquétipos platônicos existe o arquétipo Cachorro, representando todos os animais desse tipo, ou há arquétipos específicos – o Pitbull, o Galgo, o Lulu da Pomerânia? Porque se admitimos que há um Modelo Metafísico para cada um, é apenas um passo para admitirmos a possibilidade de que haja um Arquétipo para meu cachorro, e outro para o cachorro do vizinho. Ou seja: uma diluição e multiplicação que acaba por tornar desnecessário o próprio conceito de Arquétipo.
Voltemos ao artista gráfico. O que faz ele? Produz cenários e bonecos virtuais, em 3-D, moldando imagens com o mouse e o teclado. É como lidar com massinha-de-modelar, só que virtual. Depois de modelar as formas, é só selecionar uma textura (pele humana, pedra, madeira, palha, etc.) e aplicá-la sobre a forma. Tudo isto é visível no monitor, e resulta em curiosas (e um tanto mórbidas) casas de bonecas onde é sugerido um clima de inquietação e ameaça. Mas o comentário do artista é: “Para onde vão todas as minhas obras, quando desligo o computador?” Porque elas não têm existência física. São um mero conjunto de instruções matemáticas que, no interior do programa de design que ele utiliza, são reproduzidas no monitor como imagens coloridas. No momento em que o monitor é desligado, a imagem se evapora, e tudo que sobra são as instruções matemáticas gravadas no HD. Arquétipos platônicos, fórmulas abstratas, equações gravadas em bits numa superfície de silício.
Diz Ray Caesar: “Me fascina saber que este espaço tridimensional continua a existir noutro nível de realidade quando desligo o computador. Ele existe, mas como uma probabilidade matemática, e me inquieta pensar que este universo onde também existimos possa ter a mesma natureza.”
Somos todos 0 e 1.
ResponderExcluirVeja o DVD do show HOME OF THE BRAVE, de Laurie Anderson - há um trecho em que ela explora essa idéia para introduzir uma canção.
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