quarta-feira, 1 de outubro de 2008

0567) Vanderlei Luxemburgo (12.1.2005)



É um dos sujeitos mais chatos deste país, mas todo ano eu torço pelo time que ele dirige. Ano retrasado foi o Cruzeiro, ano passado foi o Santos, e em 2005 deverá ser o Real Madrid. O que me coloca um grave problema filosófico, porque no momento sou Barcelona de carteirinha, graças ao futebol magnífico de Ronaldinho Gaúcho, Eto’o e Deco.

É um mistério curioso, o de Luxemburgo. O sujeito é arrogante, tem a ostentação ansiosa dos novos-ricos, assediou sexualmente a manicure, está metido até o gogó em negociatas financeiras, mas os times que ele dirige jogam o futebol mais rápido e mais ofensivo do Brasil. No ano passado, o Cruzeiro foi campeão brasileiro com mais de 100 gols marcados no campeonato. Este ano, o Santos fez a mesma coisa.

Luxemburgo treinou o Flamengo no tempo em que Romário era ditador na Gávea. Dois bicudos não se beijam, e Luxemburgo acabou defenestrado. Só quero ver como ele vai se virar no Real Madrid. O Real tem uma constelação de egos gigantescos, com 7 prêmios de Melhor Jogador do Mundo (3 de Ronaldo, 3 de Zidane e 1 de Figo). Além do mais, dizem que existe uma máfia dos jogadores locais, chefiada pelo artilheiro Raúl, para fazer frente a essa enxurrada de ídolos estrangeiros. Ou seja: se dois bicudos não se beijam, eu quero ver o que acontece com uma dúzia deles no mesmo vestiário.

Numa entrevista recente, Roberto Carlos, que já trabalhou com Luxemburgo no Palmeiras, dizia que ele é o técnico que mais sabe “ler uma partida”. Tem técnicos que são assim. Não têm complicados esquemas gráficos na cabeça, mas percebem que no time adversário há um botinudo que precisa ser enquadrado, há um cara veloz que precisa ser contido, há dois zagueiros com timings que não combinam e é só jogar a bola entre eles... coisas assim. Houve um momento em que o futebol começou a ser muito comparado com o xadrez, e criou-se uma moda de tabuleiros com botões imantados, que o técnico ficava manipulando: “Você faz o overlapping pela direita, aí Fulano se apresenta para a triangulação, e ao mesmo tempo Sicrano precisa fugir na diagonal para atrair o beque...” Reconheço que esses esquemas tem lá os seus méritos, mas o futebol não é somente uma coreografia. Um técnico nunca pode planejar com exatidão. É como a famosa frase de Garrincha, quando Feola lhe disse para driblar o zagueiro e cruzar: “Já combinaram com o zagueiro?”

Luxemburgo sabe que não se pode combinar com o zagueiro, e que futebol consiste em neutralizar o adversário quando este tem a bola, tomar-lhe a bola, e atacar. Numa entrevista recente, ele explicou o ovo-de-colombo do futebol ofensivo: “Digamos que eu tenho cinco jogos. Se jogar para empatar, e conseguir empatar todos cinco, eu ganho cinco pontos. Se eu jogar para ganhar, e perder três jogos de goleada, mas mesmo assim ganhar os outros dois, eu ganho seis pontos.” Não, amigos, futebol não é uma caixinha de surpresas. Futebol tem lógica.

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