quinta-feira, 7 de agosto de 2008

0494) Bush, o cyborg (19.10.2004)



O “Fantástico” de domingo passado mostrou imagens suspeitas do presidente George W. Bush durante um debate com seu opositor John Kerry, dias atrás. As imagens mostram o que parece ser um objeto quadrado escondido por dentro do paletó do presidente, bem no meio das costas. A explicação mais óbvia é de que se trata de um rádio-transmissor-receptor, que, combinado a um “ponto eletrônico” na orelha, permite ao presidente receber mensagens de seus assessores, os quais durante o debate podem lhe passar datas, estatísticas, etc., além de aconselhá-lo sobre que argumentos usar contra o adversário.

Uma boa coleção dessas fotos pode ser encontrada no saite: http://homepage.mac.com/c.shaw/BushBulges/PhotoAlbum15.html. Quem quiser se aprofundar (ver discussões, teorias, vídeos, cartuns, etc. a respeito) pode ir a este Blog: http://www.bushwired.blogspot.com/ . Americano adora descobrir possíveis provas de farsas, conspirações, “armações”. Também adora saber que até mesmo o Presidente da República prefere confiar numa “cola” fornecida por um assessor do que em sua própria capacidade de discutir argumentos.

Isto me lembrou, só que em maior escala, o mesmo episódio que critiquei aqui em 25 de setembro, “Retorno imediato”, sobre um alesado que pagou 30 mil reais aqui no Brasil por uma cola eletrônica numa prova de Direito. Entendo muito bem que às vezes é grande o desespero de um sujeito que precisa-porque-precisa passar numa prova. E entendo que o presidente dos EUA tem o mesmo grau de motivação em vencer um debate e ficar mais perto de ser reeleito. O que me causa espécie, contudo, é o enorme despreparo, ou a enorme insegurança, do sujeito que recorre a isto. Um estudante de Direito até que vai. Mas... o Homem mais Poderoso do Mundo? Eu, hein.

John Kerry, o adversário de Bush, citou num desses debates uma frase do General De Gaulle, durante a crise dos mísseis de Cuba, quando Kennedy se ofereceu para apresentar-lhe provas de que os soviéticos estavam estocando os tais mísseis na ilha. Disse De Gaulle: “Não é preciso. A palavra do presidente dos EUA é o bastante.” Perguntou Kerry: “Algum governante do mundo de hoje diria o mesmo deste Presidente?” Acho que os únicos governantes que aceitariam a palavra de Bush seriam aquele cara do Paquistão, o testa-de-ferro que eles botaram no Afeganistão, o picareta Silvio Berlusconi, e quem sabe Ariel Sharon. Até Tony Blair sairia pela tangente.

Mas não se enganem. O cargo de presidente dos EUA está sendo cada vez mais um cargo decorativo. Ronald Reagan entrou e saiu da Casa Branca sem entender direito os roteiros que lhe davam e que ele, ator sem talento mas esforçado, procurava cumprir da melhor maneira possível. Bush é ainda menos inteligente do que Reagan. Não percam tempo procurando saliências suspeitas sob seu paletó. Não é preciso. Ele funciona à base de implantes mentais, palavras-de-ordem, senhas verbais. Ele e o povo americano que vai elegê-lo de novo.

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