terça-feira, 13 de maio de 2008

0391) Os que perguntam, os que procuram (20.6.2004)



(desenho de Saul Steinberg)

Já se tornou um clichê no cinema, nos livros, na televisão. Um casal de turistas vai por uma cidade estranha, tendo nas mãos um mapa, e tentando achar a Praça ou a Rua Fulano de Tal. Entram numa rua, saem noutra, e nada de chegarem onde querem. 

A mulher puxa o braço do marido: “Zé, vamos perguntar.” E ele, carrancudo: “Não, não precisa, a gente está quase achando.” Ela, à beira das lágrimas: “Amor, vamos perguntar, não custa nada.” E ele: “Tá maluca? E meu amor próprio?” 

Nunca vi um cartum ou uma cena de filme que mostrasse o contrário disto, ou seja, o homem querendo perguntar e a mulher querendo achar por conta própria. É um desses clichês entranhados em nossa cultura, para nos fazer acreditar que os homens agem sempre da forma A e as mulheres automaticamente agem da forma B.

Para mim não é isto que acontece. Essa divisão da Humanidade em “homens” e “mulheres”, na minha opinião, só tem relevância quando se trata do que chamamos eufemisticamente de “os folguedos do amor”. 

No mais, as pessoas se dividem em dois tipos: as que acham a coisa mais simples pedir ajuda a alguém quando estão em dificuldade (e aí entram tanto homens quanto mulheres) e as que acham que a coisa mais natural é continuar tentando por conta própria até encontrar uma solução (idem idem).

Tudo isto pode depender de mais fatores do que conseguirei enumerar neste espaço. 

Certos casais tendem, instintivamente, a assumir polos opostos em qualquer situação; outros tendem a um rápido consenso. 

Pessoas que crêem estar em seu ambiente tendem a querer resolver tudo por conta própria, pois acham que é isto que se espera delas (uma parisiense, em Paris, tentará achar o endereço por si mesma, ainda que seu companheiro brasileiro implore para que peçam informações). 

Homens e mulheres de índole prática querem uma solução rápida para tudo, e não hesitam em perguntar. 

Homens e mulheres de índole mais contemplativa ou aventureira não se importam de bater pernas durante horas à procura de algo, pois às vezes o trajeto é mais interessante do que o ponto de chegada.

Vou logo avisando que pertenço ao segundo grupo, o grupo dos que não perguntam nem que a vaca tussa. Gosto de descobrir sozinho, a menos que esteja indo para o Pronto Socorro, ou para assistir um espetáculo, ocasiões em que de fato é preciso resolver o problema bem depressinha. Não sendo assim, nada feito. 

Já passei uma tarde inteira procurando uma catedral que por todos os indícios devia estar bem diante do meu nariz, e só depois entendi que estava na extremidade oposta da avenida. Não importa; não foi tempo perdido. No dia seguinte, quando precisei, já sabia a avenida de cor e salteado. 

E tudo é, também, uma questão de filosofia de vida. É como diz o Budista Tibetano: "Prestai atenção, irmãos: perguntando o Caminho a alguém, chega-se mais depressa. Procurando até achar, descobre-se o Caminho."







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