Lamento informar aos torcedores do Treze que a conquista invicta do Campeonato Paraibano de 1966 não se deve ao presidente Edvaldo do Ó, nem ao técnico Astrogildo Nery, nem a Cocó, que fêz o gol da vitória na decisão contra o Campinense, nem ao resto do plantel alvinegro (que tinha Antonino na zaga, e um meio-de-campo excelente, com Martinho e Soares). Deve-se ao singelo fato de eu ter visto todos os jogos com uma camisa cor-de-palha, com uma faixa alaranjada, que aliás pertencia ao meu pai, e que usei por acaso no primeiro jogo do campeonato, repeti no segundo, e daí em diante não parei mais.
Insensatez? É possível, mas por via das dúvidas a Taça foi para o PV, e não para o PL. O supersticioso é como um sujeito que manipula um computador sem ter estudado direito seu funcionamento, só que a máquina que ele manipula é a do Destino. A cada manobra que ele faz e dá certo, a autoconfiança dele aumenta. De repente, ele tenta algo... e acontece a catástrofe. É preciso começar tudo de novo.
Em nenhuma atividade humana a superstição é tão vital quanto no futebol. Conta-se que Carlito Rocha, antigo presidente do Botafogo, viu um diretor fazer xixi na perna do outro por acidente, antes de um jogo que o Bota ganhou. Resultado: todo jogo a cena tinha que ser repetida, para constrangimento dos participantes. E o pior é que o supersticioso, como o paranóico, é dono de uma lógica de ferro. Se a ação que dá sorte fôr repetida, mas mesmo assim o time perder, não adianta tentar convencê-lo. Ele vai dizer: “É porque a gente não fêz direito: erramos a posição, ou a hora era outra, ou a camisa foi lavada...” Perguntem a Antonio Lopes, técnico do Vasco, que beija uma medalhinha 250 vezes por jogo.
O supersticioso acredita estar em convênio com as forças sobrenaturais. Não me refiro ao estereótipo do supersticioso – o que tem medo de gato preto, não passa por baixo de escadas, enfim, o que aceita passivamente esses memes do folclore. O verdadeiro supersticioso cria suas próprias superstições, personalizadas, “customizadas” como diz a galera informática. Conheço gente que não sobe num palco sem antes beber um copo dágua de olhos fechados e acender uma vela. Conheci jogadores que em hipótese alguma usavam uma camisa com determinado número. Tem gente que, se levar uma pancada no lado direito, precisa dar uma pancada parecida no lado esquerdo, para “reequilibrar”. Há pessoas que não pisam nas riscas do calçamento, que não podem ver um chinelo emborcado sem desemborcá-lo, que fecham toda tesoura aberta que aparecer na sua frente. Cada uma dessas pessoas (sou uma delas) vive num universo mágico de obrigatoriedades e proibições, com as quais se protegem sei lá de quê, e seguem vida afora, equilibrando-se na corda-bamba dessa ficção benigna, que a cada dia e a cada instante lhes assegura que sim, que vá em frente, que tudo está dando certo, e vai continuar assim – desde que ele não cometa nenhum erro fatal.
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