sábado, 29 de março de 2008

0323) Coração de mãe não se engana (2.4.2004)



(Luz Cuevas e sua filha)

A imprensa noticiou um caso curioso ocorrido em janeiro nos EUA. Luz Cuevas, uma mulher de origem hispânica, perdeu uma filha com apenas dez dias de nascida quando sua casa em Filadélfia foi destruída por um incêndio em 1997. A investigação provou que a origem do fogo foi um “gato” na instalação elétrica; o corpo da criança não foi encontrado, e a polícia concluiu que ele teria sido totalmente consumido, dada a intensidade das chamas. Os anos se passaram, Luz e seu marido Pedro tiveram outro filho, mas acabaram se separando. Um dia, Luz Cuevas foi a uma festa infantil e a certa altura seu olhar bateu numa menina de 6 anos que brincava no meio dos outros. E ela teve a certeza absoluta de que era sua filha, que estava viva.

A certeza foi tão grande que ela aproximou-se da criança, fingiu que havia um pedaço de chiclete preso no cabelo da menina e deu um jeito de cortar alguns fios, que guardou num saco plástico. Em seguida, procurou um político da comunidade hispânica local, contou sua história, e pediu um exame de DNA. O cara hesitou a princípio (eu também pensaria “essa mulher é doida”), mas a veemência e a convicção dela eram tão grandes que ele levou o caso à polícia e fêz pressão até conseguir um exame. O exame não deixou dúvidas: a menina era mesmo a filha de Luz Cuevas. Havia sido raptada por uma vizinha que em seguida provocou o incêndio para ocultar as pistas.

Pergunto eu: e agora? O que diabo é isto, senhoras e senhores? Percepção extra-sensorial? Clarividência, paranormalidade? Se a Sra. Cuevas tivesse simplesmente tido um palpite e ficado esperneando o resto da vida, sem provar nada, nenhum de nós lhe daria a menor atenção. Palpite todo mundo tem, e de cada 100 pessoas que jogam no bicho só uma tem o palpite confirmado. Mas aqui entra em cena um detalhe importante, amigos, a que eu chamo A Palavra da Ciência. A Ciência não tem nenhum preconceito contra os palpites, as premonições, as clarividências. A Ciência diz: “Tentemos descobrir um modo de confirmar se isto é verdadeiro ou não.” E às vezes consegue.

O que aconteceu, na minha opinião, foi um fenômeno muito curioso da mente humana, chamado de “reconhecimento de padrões” (“pattern recognition”). No caso, padrões fisionômicos, corporais, motores, porque tudo isto são características geneticamente transmissíveis. O exemplo de Luz Cuevas é ainda mais notável porque a filha foi raptada com poucos dias de vida, ou seja, não houvera tempo ainda para a “assimilação social”, o processo imitativo que decorre da convivência com os pais. Quando ela viu a menina, percebeu uma série de pequenos detalhes fisionômicos dela própria e do marido, coisas que qualquer um de nós observa nos próprios filhos, mas a que não dá muita importância, devido ao excesso de convivência. Está tudo lá. “Fica um pouco do teu queixo no queixo da tua filha”, dizia Drummond; dá à Ciência este pouco, e ela mudará teu mundo.

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