Um antigo provérbio diz: “cuidado com o que você deseja, porque vai se realizar”. Existe no Universo uma força capaz de captar nossas projeções mentais e materializá-las. Quando eu era pequeno fiquei impressionado com um livro chamado Nos Templos do Himalaia, de um tal de Van Der Naillen, onde um guru se concentrava diante do narrador e fazia aparecer no chão, onde os dois estavam sentados, uma pequena nuvem difusa, que ia se tornando mais nítida, até se materializar num prego de aço, novo, reluzente. O narrador ficava abismado com aquela “criação a partir do nada”, mas o guru negava: tudo que tinha feito fora agrupar ali, pela força mental, átomos dispersos pelo espaço, e dar-lhes a forma desejada.
Anos depois, li o conto de Jorge Luís Borges “Tlon, Uqbar, Orbis Tertius”, a história de um mundo inverso ao nosso. Se nós vivemos num mundo onde predominam as leis da matéria, os habitantes de Tlon vivem num mundo idealista, onde a Realidade é produzida pela mente. Uma pessoa perde um lápis; acha-o, mas não diz nada; outra pessoa, sem o saber, acha um segundo lápis idêntico, produzido pela sua expectativa de encontrar o primeiro. Borges diz que em certas regiões de Tlon fazem-se escavações avisando aos operários os objetos (imaginários) que poderão encontrar, e eles efetivamente os encontram.
Alan Vaughan, em Incredible Coincidence, conta um episódio curioso. Certa noite de 1966, um grupo de professores ingleses, reunido no apartamento de um deles, divertia-se imaginando a criação de um romance satírico sobre Londres no futuro, sufocada pela explosão demográfica. Um deles sugeriu que o Hyde Park fosse usado como abrigo para os sem-teto. Outro sugeriu que entre os sem-teto houvesse intelectuais como eles, desempregados. Outro propôs um personagem vindo de Viena, e outro sugeriu um nome de sonoridade húngara, difícil de pronunciar, como por exemplo (inventou ele, depois de algumas tentativas) “Horvath-Nadoloy”.
Passou-se. Dois dias depois, Pearl Binder, um deles, leu no jornal a notícia de que a polícia tinha encontrado um estrangeiro vagando sem rumo pelo Hyde Park, à noite; interrogado, disse que seu nome era Horvath-Nadoloy. Diz Binder: “Sentimos que tínhamos inventado esse vagabundo, e ao longo do processo de inventá-lo acabamos por trazê-lo à vida, e uma vida não muito agradável.” Pois é – nossa mente é capaz de produzir criaturas através da imaginação. Ainda não somos capazes de entender todas as sutilezas do processo, pois são escassas as experiências controladas em laboratório. Um dia, contudo, descobriremos as “condições ideais de temperatura e pressão” para que o fenômeno se produza. Quando desejamos algo com suficiente intensidade, quando sonhamos uma pessoa com toda nossa energia, essa pessoa passa a existir. Não valeria a pena sair pelo mundo afora à sua procura, agora que fomos capazes de trazê-la à vida?
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