A História Secreta da Ciência, se fosse escrita, seria maior que a História oficial. Já me referi ao gaúcho Padre Landell (“Quem foi Landell de Moura”, 25 de junho), bem como a Santos Dumont (“As máquinas voadoras”, 9 de julho), que só não é obscuro aqui no Brasil.
Outro indivíduo admirável foi o francês (e brasileiro adotivo) Hercules Florence, que descobriu a fotografia sozinho no interior de São Paulo, mas não conseguiu mostrar a ninguém suas idéias e soluções, as quais acabaram ocorrendo a outras pessoas, como é inevitável.
Florence (1804-1879) nasceu em Nice, e na escola destacou-se nas artes plásticas, na matemática e na física. Gostava do mar e de aventuras. Aos 20 anos, desembarcou no Brasil. Em 1825, juntou-se como desenhista à expedição onde o explorador russo Barão Langsdorff, cercado de cientistas, percorreu 13 mil km pelos sertões de São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais.
Florence (1804-1879) nasceu em Nice, e na escola destacou-se nas artes plásticas, na matemática e na física. Gostava do mar e de aventuras. Aos 20 anos, desembarcou no Brasil. Em 1825, juntou-se como desenhista à expedição onde o explorador russo Barão Langsdorff, cercado de cientistas, percorreu 13 mil km pelos sertões de São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais.
A aventura teve fim trágico em 1829, com a morte de vários integrantes, tendo o próprio Langsdorff enlouquecido (possivelmente de sífilis). Os desenhos de Hercules Florence foram conservados, e o material etnográfico colhido na Expedição Langsdorff tem sido editado, no Brasil e no exterior.
Radicando-se na Vila de São Carlos (hoje Campinas, SP), Florence desenvolveu a partir de 1832 uma série de pesquisas sobre a reprodução de imagens com o uso de câmara escura, lentes e papéis embebidos em compostos químicos.
Radicando-se na Vila de São Carlos (hoje Campinas, SP), Florence desenvolveu a partir de 1832 uma série de pesquisas sobre a reprodução de imagens com o uso de câmara escura, lentes e papéis embebidos em compostos químicos.
Experimentos semelhantes aos seus foram refeitos na Europa por Daguerre, Talbot e outros. Sem contatos fora do Brasil, Hercules Florence tinha apenas uma vaga idéia do que lá se pesquisava. Felizmente, os manuscritos detalhados em que registrou seu trabalho, em mais de mil páginas, foram conservados pela família, e estão transcritos no livro Hercules Florence – 1833: a descoberta isolada da fotografia no Brasil de Boris Kossoy (São Paulo: Fac. de Comunicação Social Anhembi, 1977). É possível, inclusive, que tenha sido Florence o primeiro a usar o termo “fotografia” para designar a nova técnica.
Na ciência, idéias maduras ocorrem a pessoas diferentes, em lugares diferentes. Há exemplos incontáveis. O próprio Florence, embora lamentasse o isolamento em que vivia (numa vila de 6 mil habitantes, num tempo em que a capital paulista tinha 22 mil), alertava: “Não disputarei descobertas a ninguém, porque uma mesma idéia pode vir a duas pessoas.”
Na ciência, idéias maduras ocorrem a pessoas diferentes, em lugares diferentes. Há exemplos incontáveis. O próprio Florence, embora lamentasse o isolamento em que vivia (numa vila de 6 mil habitantes, num tempo em que a capital paulista tinha 22 mil), alertava: “Não disputarei descobertas a ninguém, porque uma mesma idéia pode vir a duas pessoas.”
Quando as enciclopédias apontam um Fulano qualquer como inventor ou descobridor de algo, dão a impressão às vezes de que foi ele a única pessoa que pensou naquilo. Na verdade, são centenas, milhares de indivíduos trabalhando ao mesmo tempo, nos quatro cantos do mundo. Uns têm mais dinheiro, outros mais recursos técnicos, outros mais acesso às autoridades ou à imprensa.
A corrida das invenções científicas parece uma maratona onde, depois que todo mundo cruza a linha de chegada, o vencedor é escolhido por um júri de repórteres.
Excelente narrativa, Bráulio! Parabéns!!!!
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