Pelos meus cálculos, daqui a uns trinta anos não mais precisaremos de engenhocas tão desengonçadas como as televisões. Em vez de aparelhos enviando imagens e sons para outros aparelhos, estaremos colocando mentes humanas diretamente em contato umas com as outras, através das ondas de rádio. As possibilidades de Radiotelepatia já foram sugeridas por cientistas como Freeman Dyson, Prêmio Nobel de Física. Os maiores entraves a esta grande conquista são de natureza tecnológica e econômica, porque a parte teórica já está bem encaminhada.
Suponhamos dois telepatas, o Emissor e o Receptor. Haverá chips microscópicos implantados nos seus cérebros, os quais captarão as emissões, e as enviarão sob a forma de ondas de rádio, estimulando os centros sensoriais do Receptor e criando a ilusão de impressões visuais, táteis, auditivas, etc. O Emissor pensa numa cena. Imagina, digamos, que está andando de bicicleta num parque, num dia de sol, ouvindo música no walkman. O Receptor capta as ondas de rádio emitidas pela mente do outro, e imagina uma cena semelhante. Todas as sensações físicas (calor do sol na pele, esforço muscular de pedalar, música nos ouvidos, imagens de transeuntes, sensação de deslocação ao longo do terreno, etc.) estarão sendo recriadas pela sua própria mente a partir dos estímulos que recebe. Se dez Receptores captarem a emissão original, todas as cenas serão equivalentes à cena enviada pelo Emissor, mas serão diferentes em inúmeros detalhes, porque estarão sendo recriadas por dez mentes diferentes.
É como escutar, sem ver, um jogo pelo rádio. “Cafu domina a bola, avança ela direita, faz a triangulação com Ronaldinho Gaúcho... ele vai até a linha de fundo, prende a bola, faz o giro, toca atrás para Rivaldo... Rivaldo protege a bola, cruza... entra Ronaldo, mata no peito, fuzila... gol!” Cada ouvinte “vê” mentalmente a mesma cena, mas visualiza os detalhes de maneira diferente. Nossa imaginação, como nossa memória, não é fotográfica, é desenhística. Ao imaginar e ao lembrar, reinventamos, sempre. A Radiotelepatia aproveitará essa criatividade instintiva, transformando uma cena na mente de um Emissor em milhões de cenas, todas diferentes, e todas semelhantes.
As telenovelas do futuro terão de um lado, como Emissores, um grupo de telepatas-atores a quem cabe interpretar as cenas. Cada um deles estará numa cabine especial, e somente as suas mentes estão em contato: eles imaginam o cenário (de acordo com o roteiro), e improvisam os diálogos, as ações, a cena inteira. Tudo que acontece com eles é retransmitido, via ondas de rádio, para o resto do país, e é “visto” mentalmente pelos Receptores, que acompanham a cena como se estivessem presentes a ela, mas sem poder interferir (mais ou menos como na TV). Estarei delirando? Tragam Machado de Assis de volta ao mundo, e deixem-no assistir essas novelas que passam hoje em dia. Ele ia achar aquilo tão real que ia desistir da literatura.
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