Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 8 de março de 2008
0092) As três falácias do Real (8.7.2003)
Nelson Rodrigues chamava de “idiotas da objetividade” aquele caras que só enxergam o “óbvio ululante”, como por exemplo o fato de que o Sol gira em torno da Terra.
O problema com esses caras é que a grande maioria das coisas que eles defendem são verdadeiras. Claro! Quem disse que eles têm coragem de defender algo que nunca foi provado? Com esse cacife, eles se entrincheiram no óbvio e passam a bombardear tudo que seja duvidoso. Estão presentes em todas as comunidades científicas do mundo, e são responsáveis pelo que chamo de “as falácias do Real”, maneiras distorcidas de definir o que é o Universo e a Realidade.
A primeira falácia é: “Só é Real o que é material”.
Na linguagem cotidiana, isso se traduz no velho “só acredito no que eu posso ver, cheirar, apalpar.” É o primeiro argumento dos materialistas para negar, por exemplo, a existência da alma e a existência de Deus. Um argumento totalmente anti-materialista, diga-se de passagem. Há inúmeros fenômenos materiais que são reais mas que ninguém toca. Ninguém pode apalpar um elétron; ele só pode ser manipulado de maneira indireta. Ninguém vê ou cheira um campo magnético; sabemos que ele existe pelas perturbações que causa nos objetos metálicos. A maioria dos processos da matéria só podem ser deduzidos através de observações indiretas.
A segunda falácia é: “Só é Real o que é quantificável”, o que pode ser observado, medido e reproduzido.
Este é o maior argumento contra os fenômenos paranormais. O experimentalismo de laboratório deu um grande avanço à Ciência entre os séculos 17 e 19, mas daí a dizer que é uma condição sine-qua-non para definir o Real vai uma grande distância. Testes, medições e cálculos são suficientes para descrever alguns fenômenos, mas nem tudo no Universo tem que ser necessariamente redutível a essa linguagem. A Física sub-atômica, por exemplo, teve que abrir mão de muitos conceitos que valem em nosso mundo cotidiano mas não se aplicam ao mundinho “lá de baixo”.
A terceira falácia é: “Só é Real o que é inteligível”.
É a mais absurda de todas, mas ao mesmo tempo é a mais compreensível e a mais desculpável. Nossa mente se recusa a aceitar a existência de algo que não compreende. E a compreensão só se dá dentro dos limites do que já sabemos. Quando não entendemos uma coisa, o mais normal é que não sejamos sequer capazes de enxergá-la. Durante milênios os homens das cavernas viam a barriga das mulheres inchar e depois expelir um novo ser humano. As mulheres eram consideradas seres mágicos. Jamais ocorreu àqueles trogloditas que o milagre tinha relação com uma safadezazinha que eles tinham praticado juntos, muito tempo atrás.
Diante do que nossa inteligência não explica, o mais fácil é negar. Como o matuto que foi assistir uma demonstração do Simca Tufão, aquele que andava em apenas duas rodas, e ao ver o carro andando inclinado exclamou: “Eita mentira da bixiga!...”
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