Conta-se que na antiga China, um caso grave foi levado ao Imperador. Num acampamento onde havia seis soldados, um amanheceu morto, e o criminoso só podia ser um dos outros cinco. O que fazer? O monarca cofiou as pontas dos bigodes e disse: “Executem os cinco. Assim teremos certeza de que a justiça foi feita.” Um ministro advertiu: “Mas, Majestade! E os quatro inocentes?” E ele: “A morte deles pesará também sobre o assassino, por não ter confessado. Assim, torturem todos antes de matá-los, para termos certeza de que ele recebeu a punição merecida.”
Não é muito diferente da solução encontrada por Herodes, no Evangelho Segundo Mateus. Não podendo identificar quem seria o rei dos judeus recém-nascido, mandou matar todos os bebês com menos de dois anos. A “Solução Herodes” é um tipo de solução a que muitas vezes recorremos na vida prática, quando, incapazes de identificar a alternativa que soluciona um problema, experimentamos cegamente todas as possibilidades até esbarrar na resposta certa. Na decifração de códigos, por exemplo, isto é conhecido como o método da “força bruta”: usar todas as substituições. O aparente absurdo desta estratégia foi atenuado com a evolução de computadores que executam bilhões de cálculos num curto espaço de tempo.
O filme Enigma (2001) de Michael Apted mostra como os ingleses “quebravam” os códigos nazistas na II Guerra. Cabia a um grupo de gênios matemáticos ter intuições que reduziam o número de combinações a serem testadas, para que os computadores mecânicos da época (numa fascinante reconstituição técnica) usassem a força bruta apenas na área delimitada por eles. Força bruta, sozinha, não resolve, como qualquer jogador de xadrez sabe desde a infância. Seria impossível hoje matar todos os bebês de um país para evitar o nascimento do Messias. Arnold Schwarzenegger, no primeiro filme da série O Exterminador do Futuro, vem a nossa época com a incumbência de matar “Sarah Connor”, a mãe do futuro líder rebelde. Como uma máquina que se preza, a solução que ele encontra é sair matando todas as “Sarahs Connor” que encontra na lista telefônica. São apenas três, mas o roteiro vem em socorro da mulher certa antes que ele a execute.
Na ficção científica, a “Solução Herodes” surge em contos como “Os Nove Bilhões de Nomes de Deus” de Arthur C. Clarke, onde um computador combina todos os nomes possíveis de Deus, e deleta o Universo. Sua inspiração original é a velha frase (que já resultou em muitas histórias): “Se déssemos máquinas de escrever a seis macacos, depois de um milhão de anos teclando ao acaso eles escreveriam todos os livros do Museu Britânico.” Jorge Luís Borges (em “O imortal”) dizia que Homero compôs a Odisséia, mas, postulando um prazo infinito, seria impossível alguém não compor a Odisséia. O Universo em que vivemos pode ser uma tentativa de Deus de dizer alguma coisa que faça sentido, usando o método da força bruta.
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