Poucos músicos terão, numa vida tão curta, deixado tantas influências e uma lenda tão enigmática quanto o bluesman negro Robert Johnson, “o Rei dos Cantores de Blues do Delta”. O Delta é o do rio Mississippi, que, antes de desaguar no Golfo do México, perto de New Orleans, percorre uma planície de aluvião que se espalha por quatro Estados (Tennesse, Arkansas, Mississippi e Lousiana) da região chamada “as profundezas do Sul” ou “o coração do Sul” dos EUA. É a terra dos escravos que colhem algodão, dos fazendeiros orgulhosos, de uma mistura étnica que ainda guarda influência das colônias francesas. É o mundo da “casa grande e senzala”, o mundo da literatura de William Faulkner e Tennessee Williams; e o mundo dos grandes cantores negros de blues.
Robert Johnson nasceu em 1911, de pais separados, numa família pobre e cheia de filhos. Como sua vista não era muito boa, largou a escola cedo, e passou a adolescência acompanhando músicos de blues, tentando aprender com eles. Era esnobado pelos mais velhos, até o episódio que deu origem a sua lenda. Depois de sumir alguns meses, reencontrou os amigos músicos, que ficaram abismados: Johnson agora estava tocando violão melhor do que todos. Surgiu daí a lenda (aparentemente confirmada em algumas de suas canções posteriores, como “Me and the Devil Blues” ou “Hellhound on my Trail”) de que ele teria feito um pacto com o Diabo, a alma em troca de talento.
Viajando sem parar, como um violeiro nordestino, Johnson, um rapaz magro, tímido, sempre namorava moças feias; seus biógrafos vêem nisso uma estratégia de sobrevivência, pois em cada cidade ele assegurava para si uma mulher dedicada e sem outros compromissos. Um dia, resolveu namorar uma que era bonita, e casada. Durante um baile, alguém lhe estendeu um frasco de uísque envenenado. Johnson agonizou por alguns dias e morreu em 16 de agosto de 1938. Tinha 27 anos.
O que conhecemos hoje de Robert Johnson são duas fotografias, alguns documentos, e as 29 canções que ele gravou para o produtor Don Law, em quartos de hotel do Texas, em San Antonio (novembro de 1936) e Dallas (junho de 1937). O filme de Walter Hill “Crossroads”, com Ralph Macchio e trilha sonora de Ry Cooder, é a história de um garoto e um bluesman que saem em busca de uma lendária “30ª canção” que Johnson teria gravado. Hoje, Johnson é um mito. Eric Clapton o considera o bluesman mais importante que já existiu, e diz: “O que me impressiona em seus discos é que ele não faz nenhum esforço para agradar, ele não toca pensando num público. Quando ele toca, parece estar mergulhando fundo em si mesmo.” Keith Richard, dos Rolling Stones, conta que ao ouvir pela primeira vez o álbum famoso de Johnson, “King of the Delta Blues Singers”, perguntou a Brian Jones: “Mas quem é o outro cara que toca com ele?” Não havia outro cara: Johnson fazia tudo aquilo sozinho. A menos que o outro cara fosse... bom, mas lendas são lendas, e essas coisas não existem.
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