sexta-feira, 7 de março de 2008

0055) O cético (25.5.2003)



Houve uma época em que eu circulava numa turma de amigos que liam muito sobre Magia Ritual, Ocultismo, Paranormalidade, esse tipo de coisas. Cada um tinha seus pontos de vista a respeito. Um de nós, descrevendo dois outros participantes do grupo, usou esta expressão: “Fulano acredita, mas não vê. Sicrano vê mas não acredita.” 

 Não conheço fórmula melhor para descrever os dois tipos de céticos. 

O cético não é apenas um cara teimoso, que se recusa a acreditar, que tapa os olhos e os ouvidos e fica cantarolando “lá-lá-lá-lá-lá” para não cair em tentação. 

O cético é simplesmente um sujeito exigente. Ele não se deixa levar pela primeira conversa, nem mesmo quando a conversa é a dele próprio.

O cético mais famoso é São Tomé, que, ouvindo o relato dos demais sobre a ressurreição de Cristo, duvidou dela. O episódio está no Evangelho de São João (os outros Evangelhos referem a incredulidade dos discípulos, mas não citam nomes). 

Ao pedir para conferir os ferimentos no corpo de Cristo, Tomé é admoestado: “Tu creste, Tomé, porque me viste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” Este pequeno episódio foi muitas vezes usado por materialistas e ateus para mostrar que a religião adora afirmar sem provas, convencer sem argumentos, dizer sem confirmação. 

Eu mesmo escrevi um poeminha: 

Ninguém me embroma. 
Eu sou como São Tomé. 
Meto o dedo no hematoma 
pra que ninguém me tome 
pelo que é.

Quando eu vejo uma luz passar no céu, eu não penso que é uma espaçonave alienígena, não penso nem sequer que é um “objeto voador não-identificado”. Como vou saber se aquilo é um objeto ou não? Por mim, é apenas uma luminosidade. 

Mas tem gente que basta ver um brilhozinho passando pra dizer logo: 

-- Tá vendo? Olhe aí a prova! São visitantes extra-galácticos! Eles estão observando nosso planeta há séculos, mas não se aproximam porque nós temos bombas atômicas! 

Se eu estiver passando na rua e vir um disco-voador pousar, e uma porção de extra-terrestres saírem de dentro dele, a primeira explicação que vai me ocorrer é que fiquei doido. Me parece muito mais provável.

Nem todo mundo que acredita vê. Perguntei uma vez a um ufólogo se ele já tinha visto um OVNI em seus vinte anos de estudos. “Não,” confessou ele, “toda vez que vejo alguma coisa acabo percebendo que tinha outra explicação, bem simples.” 

Pense num cara honesto! É o contrário de um monte de gente que tem por aí, que diz que foi abduzido, andou “por outras galáxias”... esse pessoal acha que andar por outros planetas é pouco, tem que ser “por outras galáxias”. 

Parece essas pessoas que se convertem ao cristianismo e meses depois já estão falando com Jesus, conversando com os anjos e montando no cavalo de São Jorge.

Um cético não duvida apenas dos outros, duvida de si próprio. O cético é um cara a quem alguém mostra o Everest, e ele diz: “Só acredito que isso é uma montanha se eu conseguir chegar lá em cima.”





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