sexta-feira, 7 de março de 2008

0022) Parceiros (17.4.2003)

Dias atrás um conhecido me ligou para que eu tirasse uma dúvida. Quem vem primeiro quando se informam os nomes dos autores de uma música, no selo de um disco: o letrista ou o compositor? Isto me lembrou o tempo em que, nos bacuraus que fazíamos nas esquinas de Campina, perdíamos horas discutindo se o fato do nome de Lennon vir antes do de McCartney indicava que ele era o letrista, e Paul o autor da música. Não sei quem inventou essa noção, mas ela existe, e já vi essa discussão até em escritórios de gravadora, gente reclamando que o encarte do disco estava errado, porque o nome de Fulano veio antes do de Sicrano, quando era para ser o contrário.

Não creio que haja lei ou jurisprudência regulamentando um detalhe tão besta, mas acho bom esclarecer. A ordem dos nomes não tem nada a ver com letra ou com música. É determinada pelo acaso, ou pelo hábito, ou porque um dos parceiros é mais ansioso e exige aparecer primeiro. Não há regra. Se no disco tem “Noel Rosa e Vadico”, ou “João Bosco e Aldir Blanc” isto são apenas fórmulas que se fixaram com o tempo. Não indica quem fêz o quê. No meu caso, por exemplo, quando assino minhas músicas com meus parceiros mais frequentes, coloco “Braulio Tavares e Fuba”, coloco “Lenine e Braulio Tavares”. Por ordem de importância? Não: porque cada uma dessas fórmulas é um verso de 7 sílabas, uma redondilha maior. Fica mais agradável ao ouvido do que a forma inversa.

Outra coisa: nem sempre se pode distinguir quem fêz a letra e quem fêz a música. Há parcerias onde essa divisão de trabalho é nítida, mas em outras não é. No caso dos Beatles, por exemplo, sabe-se que, geralmente, John ou Paul fazia a primeira parte de uma canção (letra e música), e a entregava ao outro para que fizesse a segunda parte. Os dois se equivaliam como letristas e como compositores. O mesmo se dá no caso de Roberto e Erasmo Carlos. Não há “o músico” e “o letrista”. Ambos botam a mão na massa, ambos mexem em tudo.

Sabe-se hoje que muitas das canções de Luiz Gonzaga eram-lhe entregues quase prontas pelos parceiros, Humberto Teixeira ou Zé Dantas. Cabia a Gonzaga a finalização: enriquecer a harmonia, criar as introduções e solos instrumentais, às vezes criar um refrão. Em outros casos, ele trazia a melodia prontinha para o parceiro “letrar”. Não há uma fórmula. Cada canção é diferente, e muitas vezes o modo de compor é determinado pelo parceiro que teve a idéia. É ele quem puxa a criação, o outro vai tapando os buracos e ajudando na revisão final.

Outra pergunta frequente é sobre a partilha dos direitos autorais. A resposta é: não importa o quanto cada um contribuiu para a música. Sendo dois autores, são 50% para cada. Se são três, são 33,3% para cada, e assim por diante. Só em casos excepcionais coloca-se no contrato que um parceiro vai ganhar mais do que o outro. Também neste caso, a regra é que haja uma partilha de responsabilidades e de lucros. Por isso se chama parceria.

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