Um artigo recente de Fred Kaplan (em Salon.com) fala sobre o Millenium Challenge 02, um jogo-de-guerra patrocinado em julho-agosto de 2002 pelo governo Bush, encenando uma guerra fictícia num país semelhante ao Iraque. Durou três semanas, custou US$ 250 milhões, e envolveu 13.500 pessoas das Forças Armadas. Um general que jogava do lado dos “iraquianos” retirou-se em protesto, porque o outro lado “estava roubando”. A “coalizão”, claro, ganhou o jogo simulado.
Nas guerras de hoje, mais importante do que a Física Nuclear é a Teoria dos Jogos, um sub-ramo da matemática que se liga por um lado ao Cálculo das Probabilidades, por outro à Psicologia, por outro à Cibernética, e por outro às disciplinas estratégicas militares. Uma guerra é um jogo sempre que podemos analisar o inimigo, tentar saber o que está pensando, prever o que tentará fazer, impedir que o faça. A Teoria dos Jogos, no entanto, só considera conflitos onde os opositores usam o raciocínio, a imaginação e a capacidade de mentir, para obter certas vantagens e infligir certas desvantagens ao oponente. Ela não se aplica a certos tipos de conflitos. Uma briga de cachorros, por exemplo, é visto como uma simples sequência de eventos, cada um dos quais deflagra o seguinte. Não pode ser analisada como se fosse um jogo de xadrez.
Dizem que uma guerra é algo que a gente sabe como começa, mas não sabe como termina. É um mergulho no imprevisível, e é por isso mesmo, como muita gente vem a aprender, um mergulho no incontrolável. Certas catástrofes militares dependem muitas vezes de uma mera decisão binária. Como a decisão foi “X”, morreram dois milhões de pessoas. Se tivesse sido “Y”, elas não teriam morrido. O problema com decisões deste tipo é que, quando se toma a decisão certa, não se fica sabendo se era mesmo certa. Algo que queríamos evitar foi evitado, mas, se não aconteceu, como eu posso saber se ocorreria ou não? Tranquei a porta antes de ir dormir. Como posso saber se isso me salvou a vida ou não? Tomei a vacina e não adoeci. Teria adoecido, se não a tomasse?
Já presenciei brigas em arquibancadas de futebol que começaram com uma brincadeira: A empurrou B, que caiu sobre C e D, os quais, pensando que era uma agressão, se defenderam, mas foram mal entendidos por E, F, G, H e I, amigos de B, que caíram de pau neles dois, provocando a imediata mobilização de J, K, L, M, N... e a coisa virou uma reação em cadeia. Tenhamos medo das reações em cadeia. “Cadeia” aí não tem nada a ver com prisão, é sinônimo de progressão geométrica. Não existe melhor exemplo de reação em cadeia do que rebelião na Febem.
Um grupo de generais argentinos bêbados resolveu certo dia invadir as Malvinas, e deu no que deu. Muito sujeito metido a brabo já deu um boi para entrar numa briga, somente para descobrir que não era uma briga, era o estouro de uma boiada, e passou todinha por cima dele. Bem feito.
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