quarta-feira, 30 de setembro de 2015

3932) Cinco perdidos (30.9.2015)





(ilustração: Rodney Allan Greenblat)


Elisha Nelbroy III, de Cincinatti (Ohio), 36 anos, perdeu a aliança numa briga de bar e acabou separando da esposa que nunca acreditou que foi mesmo uma briga. Ele era arriado dos quatro pneus por ela. Vivia suplicando uma chance. Dois anos depois a garçonete do bar, que o conhecia, achou a aliança numa fenda da madeira sob o balcão, e a devolveu a Elisha. Ele botou a aliança no bolso, a moça no carro, foi até o trabalho da esposa (era na redação do jornal da cidade) e exibiu a prova diante de todo mundo. Hoje vive a esposa pedindo perdão e ele nem aí, anda saindo adivinha com quem.

A família Dambroa, do Cariri paraibano, perdeu um tesouro enterrado por um antepassado seu, em coordenadas que foram decoradas por seus três filhos, só que depois da morte do pai cada um deles as transmitiu para os seus descendentes com erros de interpretação, de sorte que até hoje ninguém chegou a um acordo sobre os dizeres da fórmula e todos brigam sem parar atribuindo-se culpas, enquanto o tesouro continua esperando que brilhe no clã alguma fagulha de inteligência, porque esperar por sensatez é tempo perdido.

Amalic Tangrau, de Istambul (Turquia), 45 anos, perdeu um gato ao se mudar de sua antiga casa em Cihangir, para um novo condomínio do outro lado da cidade. No segundo dia após a mudança o gato sumiu. Os amigos e vizinhos o aconselharam a procurar o gato no antigo endereço, mas ele recusa-se, dizendo que é impossível o gato ter voltado, uma vez que durante a mudança foi transportado numa caixa, sem ver por onde estava passando.

Jean-Claude Soubiroux, de Paris, 33 anos, perdeu uma frase lida na adolescência num livro aberto ao acaso, de cujo título não se recorda, e cujo autor não conhecia; gravou na memória essa frase de cerca de vinte palavras, e dedicou toda sua vida adulta a tentar recuperá-la, na escola, na Sorbonne, nas rodas literárias, nas bibliotecas, sempre em vão, até mesmo depois do advento do Google, onde ele já a digitou com todas as variantes imagináveis em todas as línguas que pôde, mas continua sem saber de quem é e onde a encontrou.

Joaquim Lúcio Quintães, do Crato (CE), 41 anos, fazendeiro e dono de frigorífico, foi jogar uma pelada na fazenda de um vizinho e perdeu no gramado uma volta de ouro que trazia ao pescoço, e que tinha sido o último presente de sua mãe, “in extremis”. Dois dias depois, sem ninguém achar a coisa apesar da polpuda recompensa, Joaquim comprou o campo ao vizinho, bem como uma faixa de dez metros em torno do perímetro, passou o pente fino ali durante dois meses e quando um morador achou a correntinha ele a tomou de volta e mandou dar uma surra no rapaz quando ele falou em dinheiro.



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