terça-feira, 7 de julho de 2015

3860) 10 assombrações (8.7.2015)




Ninguém estranhou quando o fantasma de Lord Ambersonville apareceu na hora exata em que sua viúva se casava com o General O’Leary. A noiva o viu mas manteve o controle até o sim, a assinatura, o desmaio.

Mary Nowalski, de Boston, comprou num brechó uma mala de viagem seminova, e cada vez que a arruma para viajar vê ali roupas que nunca teve, com sedas e estampas primaveris, tailleurs de banqueira, roupas que se desfazem no ar quando ela tenta vesti-las.

Em um restaurante de Lobito, em Angola, um gerente recebeu (e guardou) uma nota assombrada de “kwanza”, a moeda local, cuja efígie, após a meia-noite, é substituída por um gif animado e sorridente do ex-ditador português Oliveira Salazar.

O Prof. Sérvio Lomanto, de Londrina, tem na parede de seu escritório uma cópia emoldurada e envidraçada da “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, na qual aparecem de vez em quando palavras dadas como mortas, tais como virente, anspeçada, sotoposto, lufa-lufa, ergástulo, lornhão.

No iglu onde moram seus pais já idosos, o esquimó Aran avistou um fogo mal-assombrado, pequena fogueira junto à parede do iglu, com chamas se agitando mas sem produzir calor, e sem queimar as mãos que passam através delas como se não existissem, mas mesmo assim não há como sossegar os velhinhos.

O Dr. Yurgen Walloo, de Fort Lauderdale, descobriu que a ocorrência de fantasmas, ou seja, projeções sensíveis de uma impressão de presença de um ser já morto, é muito menos comum nos seres humanos do que nas plantas, onde é tida como fato natural.

Laura Potthill, do Wisconsin, descobriu no aquário de sua sala uma mancha luminosa que se movia em sincronismo com os movimentos do seu peixinho Galahad, e deduziu que seria a aura espiritual da referida criatura.

Foi na tenda do funileiro Argat Ahramadul, numa viela sossegada de um subúrbio antióquio, que brotou uma serpente verde e transparente coleando pela cidade, durante dois dias, e na qual todo mundo reconhecia um antigo burgomestre local.

Perto de São João do Cariri tem uma estrada lateral de duas léguas e no final uma casa velha de paredes de taipa, com teto de ripas e telhas, onde num recanto, por trás do pedestal vazio da TV, o fantasma de uma aranha mantém a teia limpa de moscas há tempos imemoriais.

Fantasmas podem ser apenas vislumbres de um mundo paralelo ao nosso, ou intercalado a ele, talvez baste um pouco de pressão no ponto certo e alguma película ou membrana se deixa traspassar, pensava Zito de Moema, tomando uma cana no batente-de-pau do bar de Abimeleque, fartando-se com o que via, somente daquele ponto, e que descobrira por acaso quando criança.



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