quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

3703) Contracapa de chip (6.1.2015)



(ilustração: Supranav Dash)

&  poesia não tem regras que é preciso obedecer, tem hábitos que é possível mudar  &  já que é assim, regulamentemos a propina e incorporemos o trambique  &  bastaria o mundo inteiro ficar sem luz elétrica sete dias para destruir a civilização como a conhecemos  &  na política só existem dois objetivos: chegar ao poder, e manter-se no poder; o resto são tarefas perfunctórias e retórica tecnocrata  &  a Natureza foi sábia quando nos fez sem botão de autodesligamento  &  certas drogas dão uma aparente grandeza a quem não consegue mais crescer  &  vá à luta; a única coisa que cai do céu é satélite sem manutenção  &  a vida é feita de alegrias equivocadas e sofrimentos inúteis  &  tem gente que se comporta como se estivesse cercada de biógrafos autorizados  &  aquela extenuante sensação de viver numa vitrine iluminada em plena avenida  &  não me lembro a última vez em que eu abri os olhos de manhã e disse “oba!”  &  a vida é como o futebol, para cada gol sofrido é preciso fazer pelo menos dois  &  toda foto é um fotograma de um filme que se perdeu  &  não abra minha cabeça não, que vai ser barômetro explodindo pra todo lado  &  a imbecilidade chega a ser perdoável, quando desacompanhada da grosseria e da pretensão  &  será que uma biografia só pode escolher entre ser uma versão imposta e uma calúnia gratuita?  &  ricos não se contentam com animais, eles precisam de pessoas-de-estimação  &  e aqui estou eu de novo, entrando nas águas daquele outro rio e tomando meu último banho mais uma vez  &  a vida é uma fruta onde a gente é obrigado a engolir casca e caroço  &  o mundo fez da minha alma massa de pão  &  quem me dera lembrar de dez por cento dos repentes bonitos que eu ouvi  &  fazer um poema concreto em forma de formigueiro  &  o supersticioso está sempre a um passo de explodir o mundo  &  tem histórias que são tão inverossímeis que só podem ser verdadeiras  &  qualquer dia desses vai ter aplicativo de smartphone com primeiros socorros, com canivete suíço, com psicanalista  &  a poesia é um macaco segurando uma banana de dinamite  &  feliz de quem não usa a força bruta mas poderia se precisasse  &  a esperança é a única que move  &  eu sou contra o latifúndio, mas quando é preciso eu defendo o meu  &  é o Acaso quem distribui os destinos  &  o mau gosto é mais próximo do sentimental do que do distanciado, mais próximo do bonito do que do grotesco  &  toda verdade humana é parcial, ou não seria humana  &  tudo que pode servir de prova da existência do Destino pode servir também de contraprova  &  a gratidão é o reconhecimento de uma dívida que não precisa ser paga  &

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