sábado, 15 de novembro de 2014

3657) O balão de Dumont (13.11.2014)


Li numa matéria sobre Santos Dumont que o seu quarto balão, chamado (numa contagem descontraidamente brasileira) “no 3” se destacou pelo fato de ter sido o primeiro que se elevou com gás de iluminação, e o primeiro para o qual foi construído um hangar.   O gás de iluminação substituía o hidrogênio, que até então era o gás mais utilizado para inflar os balões da época.   O vôo foi realizado no dia 13 de novembro de 1899 – o dia exato em que, segundo os videntes do "fim do século", o mundo iria se acabar. 

 

Não sei por que motivo nostradâmico se previa o fim do mundo para esta data, e não para 31 de dezembro, o que pelo menos teria alguma lógica cronológica. Vai ver que assim como 13 é 31 ao contrário, novembro é dezembro ao contrário – para essa turma pêndulo-de-foucault, qualquer coisa pode ser demonstrada verbalmente.

 

Santos Dumont, ao que parece, não tinha problemas com o número 13, pois além de desafiar o Apocalipse anunciado, construiu e pilotou um balão com este número, mesmo vindo de duas tentativas abortadas com os números 11 e 12.  O no 13, ao que parece, sofreu algum tipo de sabotagem, mas logo em seguida veio o 14 e seu upgrade 14-Bis, e o resto é história. 

 

Não imagino que Santos Dumont fosse imune a superstições. Ao que parece foi por superstição que ele pulou o número 8, e na prática isso equivale a recear o 13, o 7 ou qualquer outro.  Mas, como temos o hábito mental de tirar lições de fatos aleatórios, aproveitemos para lembrar a reação de Santos Dumont, que foi provavelmente a de dizer: "Não, não tenho medo de que o mundo vá acabar hoje.  Para falar a verdade, acabei de construir um troço complicadíssimo que nem eu mesmo tenho certeza se vai voar ou não, e não tenho tempo de pensar em fim do mundo."

 

O mundo não acabou: o balão de Santos Dumont foi quem acabou voando.  Podemos aproveitar a outra informação (foi para este balão que ele construiu o primeiro hangar) como uma prova de seu otimismo, de sua certeza de que não apenas o mundo não ia acabar, mas talvez chovesse daí a alguns dias, e era preciso guardar o balão num lugar coberto.  Era um sujeito cheio de manias, e quase todas eram de ordem prática.

 
Mas, e o número 8?  Terá sido a prudência de Santos Dumont, evitando este número tão evidentemente perigoso, que salvou o Universo em que vivemos hoje?  Bem, tudo é possível.  Mas o melhor complemento da lição será, talvez, pensar que não comemoramos a data em que Fulano deixou de voar: comemoramos aquela em que ele de fato voou, sem se preocupar com milênios, cabalismos, superstições, e catástrofes anunciadas que afinal só interessam a quem vive passando cheque pré-datado.


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