O diretor David Cronenberg (Videodrome, A Mosca II, eXistenZ, etc.) acaba de lançar seu primeiro romance, Consumidos (Alfaguara/Objetiva, 2014). O livro é descrito como “a narrativa bifurcada do assassinato canibalístico envolvendo um casal de famosos filósofos franceses e um médico que está por trás de uma doença sexualmente transmissível e sua estranha filha”. Se eu tivesse lido esse resumo sem saber o autor, pensaria: “Esse cara deve estar vendo muitos filmes de Cronenberg”.
Fiquei curioso em saber como foi esse
processo para quem, como ele, escreveu não só seus próprios roteiros mas também
adaptou alguns romances (Naked Lunch de William Burroughs, Cosmópolis de
Don DeLillo, Crash de J,. G. Ballard, etc). Não conheço muitos romances de estréia de diretores com carreira já
consolidada, ou seja, alguém que dirigiu mais de meia-dúzia de filmes e de
repente resolveu escrever um livro. Numa entrevista no saite The Daily Beast (http://tinyurl.com/py385c4), ele
comenta o processo.
“Romance e roteiro não se parecem em nada.
Um roteiro é um tipo bizarro e híbrido de escrita, onde a qualidade de sua
prosa é irrelevante. Na verdade, tanto melhor se for uma prosa rasa e simples.
Quando a gente lê um roteiro de um escritor frustrado, a gente o odeia, porque
ele vai, e vai e vai, descrevendo coisas irrelevantes. (...) O roteiro tem que ser uma leitura rápida e
clara, que possa lhe dar uma idéia de como sua equipe pode fazer com que aquilo
aconteça. É uma escrita restritiva, comprimida. Um romance é totalmente
diferente. Descobri, para minha surpresa, que escrever um romance parece muito
mais com dirigir um filme. Você escolhe o elenco, faz a iluminação, os
figurinos, as locações, os efeitos sonoros, efeitos especiais, música. Você faz tudo. Não é assim quando se faz um roteiro.”
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