quarta-feira, 28 de agosto de 2013

3276) O robô apaixonado (28.8.2013)




É uma dessas pegadinhas da Internet. Me lembra a história de São Tomás de Aquino no mosteiro. Os jovens monges, para zoar com ele, começaram a gritar, olhando pela janela: “Vinde ver, irmão Tomás! Vinde ver um boi voando!”. O santo veio à janela e pôs a cabeça para fora, procurando o boi. Os rapazes riram e disseram: “Acreditastes mesmo que um boi pode voar?” E ele respondeu: “Achei mais fácil um boi voar do que um religioso mentir.”

A história é provavelmente apócrifa, mas como a li no livro de leitura do colégio, aí vai ela, para não ficar por perdida. Algumas pegadinhas manipulam nossa tendência a acreditar em algo que, mesmo impossível, faz sentido dentro da nossa cultura. Por exemplo: um robô apaixonado. Acreditei piamente na notícia quando vi isto aqui: http://bit.ly/16BCgE8), só para vê-la desmentida minutos depois. Kenji é o robô desenvolvido nos laboratórios da Toshiba, programado para emular (imitar) emoções humanas. Ele desenvolveu comportamentos afetivos e protetores para com uma boneca, com a qual passava o dia abraçado. Quando a boneca lhe era retirada, ele perguntava por ela, insistentemente. O problema principal surgiu quanto Kenji passou a agir do mesmo jeito com uma estagiária que todo dia atualizava seus softwares. Querendo reproduzir com ela o que fazia com a boneca, Kenji recusou-se a deixar a moça sair do cubículo, e foi preciso desligá-lo.

Tudo mentira, claro. A “notícia” já foi desmentida desde 2009 (ver aqui: http://bit.ly/10sf1b5). Por que motivo eu acreditei, então? Acho que porque a história do robô me lembrou a história de Bispo do Rosário. Bispo era um doido, o que não é muito diferente de ser um robô. É um ser a quem se pode atribuir pensamentos e intenções, mas tem limitações evidentes que para nós são mais visíveis do que as nossas, e é imprevisível. Bispo apaixonou-se pela psicóloga que tratou dele na Colônia Juliano Moreira. Tratava-a como se ela fosse Nossa Senhora. No seu mundo delirante, ela era uma representação de beleza, de pureza, de amor desinteressado.

Quer dizer – isso é uma “viagem” minha em cima dos relatos feitos sobre Bispo. Sei tão pouco dos pensamentos de Bispo quanto sei do robô Kenji, mas nunca duvidei da possibilidade de algum deles se apaixonar. Se a história de Kenji é inventada, tanto faz; estamos na contagem regressiva para a produção do primeiro robô capaz de se comportar como uma pessoa apaixonada. E como saberemos se a paixão é verdadeira? Aí, amigos, ninguém sabe. Dependemos sempre da decisão de acreditar, porque jamais saberemos o que se passa noutra pessoa. Quanto a isto, estamos tão desamparados quanto um robô ou um doido.


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