quarta-feira, 20 de março de 2013

3138) Clube da Barruada (20.3.2013)



Me desculpe quem tiver achado plebeu demais esse termo usado no título. Num dos clubes a que pertenço é assim que se designa colisão de veículos, quando são duas pessoas de verdade falando. Quando o cara se dirige a um público invisível ou indiferenciado, diz colisão de veículos. 

O termo completo em inglês é Party Crash, que poderia ser traduzido como “Festa da Barruada”, mas quem o está utilizando é Chuck Palahniuk, o mesmo cara que escreveu Clube da Luta, sua história mais conhecida.

Este livro é de 2007 e chama-se Rant. Numa época imprecisa, grupos de desocupados ou de aventureiros meio existencialistas passam a noite num incessante “pega” de automóveis. Cada grupo em seu carro, eles passam a noite inteira batendo uns nos outros, obedecendo a um complicado sistema de regras, penalidades e premiações simbólicas de variada natureza. Palahniuk aqui está usando parachoques como se fossem punhos, e tratando como iguais rosto humano e lataria.

A subcultura barruadeira dessa turma lembra a sensação de vício virtual produzida por algumas horas de jogar Grand Theft Auto (GTA), sacolejando por aquelas ruas tão verazes, capazes de seduzir e convencer o olho, se bem que não o corpo inteiro. 

A perseguição, em Rant, pode ter algo de Bullitt ou Operação França, pode ser algo galhofeiro e despropositado como qualquer invenção maluca dos irmãos Coen ou de Tarantino; pode mostrar a promiscuidade fria e entomológica de J. G. Ballard e de David Cronenberg no livro e no filme Crash.

Existe uma mini-humanidade completa no universos desses folguedos sobre quatro rodas, que lembram Halloween, galera que dá cavalo-de-pau na multidão.  A subcultura deles é constantemente alimentada por uma estação de rádio que descreve, com detalhes incômodos, os ferimentos sofridos pelas pessoas que acabam de sofrer acidente de carro em algum ponto da rodovia.  

Uma rádio que todos ligam, mas que, ao contrário do DJ negro em Vanishing Point de Richard Sarafian, age de forma impessoal e cuidadosamente planejada. Uma equivalente dos “Globocops” em geral, que mistura o sensacionalismo explícito dos tablóides populares e o ar sem-frescuras, direto-ao-ponto, da moça que recita as previsões da meteorologia.

Alguns personagens do livro poderiam ser chamados meteorólogos do trânsito urbano, e Palahniuk avisa que esse nicho da marginália ocupado por alguns milhares de “party crashers” surgiu de pesquisas sobre fluxo de trânsito, acidentes planejados que tornaram-se divertidos demais para que alguém os mantivesse sob controle por muito tempo.  Party Crash é apenas um dos cinco ou seis aspectos dignos de discussão em Rant.









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