terça-feira, 25 de outubro de 2011

2696) Severino Marinho (25.10.2011)




(Marinho e D. Lurdinha)

Recebi a notícia do falecimento de Severino Marinho Leite, e me vejo mais uma vez, nas últimas semanas, diante dessa missão impossível: dizer o que uma pessoa representou em algum momento da nossa vida. Uma morte é um desses momentos que nos deixam sem saber o que dizer. Não porque não haja coisa alguma a ser dita, pelo contrário. De repente há uma vida inteira, milhões de coisas para serem ditas. Pode-se começar por qualquer ponto e prosseguir indefinidamente; esse excesso de caminhos acaba por nos condenar à imobilidade.

Marinho foi um dos grandes amigos do meu pai, e em muitos momentos foi uma espécie de anjo da guarda que orientava nossa família em situações difíceis. Uma vez, quando Seu Nilo estava meio enfarruscado com a vida, por causa de projetos que não andavam pra frente, alguém lhe perguntou se ele não tinha amigos, e ele disse: “Tenho, sim: Severinos Marinhos Leites”. Não o disse certamente para menosprezar os outros; mas sem dúvida porque naquele momento era Marinho o único capaz de ajeitar os óculos dourados de lentes verdes, passar a mão pelo cabelo e dizer: “Calma, Nilo, isso vai se arranjar, vamos analisar o problema”.

Não vou insistir apenas na minha perda pessoal. Melhor dizer logo que a perda de Campina Grande foi muito maior do que a minha. Não apenas pelo cidadão, mas porque Marinho foi o torcedor-símbolo do Treze, o homem que manteve ao longo de seus mais de 80 anos de vida o registro permanente dos jogos do Galo (jogo, data, local, placar, autores dos gols, escalação do Treze). Quantos times brasileiros podem se gabar de um torcedor assim? Em 1975 quando fizemos, sob a orquestração de Hélio Soares e do presidente Zé Agra, a revista do cinquentenário do Galo, foi dos arquivos de Marinho que extraímos as estatísticas de todos os resultados do Galo naqueles cinquenta anos. O mesmo com Mário Vinícius ao compor seu livro monumental sobre a história do alvinegro.

Uma bela lembrança que guardo, do meu tempo de garoto, é de uma viagem noturna ao Recife, quando ele e meu pai me levaram de carro para ver um torneio na Ilha do Retiro, que teve na preliminar Náutico x Palmeiras (a única vez em que vi Djalma Santos jogar) e na principal Sport x Corinthians. Estudei no Alfredo Dantas com seus filhos Marcos e Fernando. Depois tornei-me amigo de sua filha Cida Lobo, que foi há pouco tempo sub-secretária de Cultura do Estado. Marinho era para mim uma figura paterna, um pai mais jovem e mais comedido, levemente brincalhão e sempre sereno. O Treze que ele tanto amou deu-lhe alegrias nos últimos tempos. A cidade que ele defendia cresceu tanto que hoje nem percebe o quanto sente sua falta.

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