domingo, 27 de junho de 2010

2202) Messi (30.3.2010)



A Copa do Mundo já está em contagem regressiva no “Globo Esporte” e eu me preparando. O Brasil inteiro se prepara para torcer por mais um título da Seleção. Eu, não. Já sei que o título é praticamente impossível. A Fifa e os poderosos chefões do futebol não nos permitirão ganhar dois títulos consecutivos em 2010 e 2014; e se é pra ganhar somente um, prefiro (e acho que Ricardo Teixeira também) ganhar a Copa que vai ser disputada aqui, na nossa casa. Fica mais redondo, não é mesmo? Esqueçam o título.

Torcer pelo Brasil é minha segunda prioridade. A primeira é ver grandes jogos, grandes craques, grandes gols. A Copa é o Woodstock do futebol. Eu pertenço a essa espécie pouco ortodoxa que gosta mais de futebol do que de um time, ainda que seja o do Brasil. A maioria dos torcedores tem com o futebol uma relação composta em partes iguais de política, militarismo e religião; meu relacionamento com ele é de ordem estética. Se numa final de Copa, jogo empatado, Brasil x Argentina, um argentino fizer um gol de placa tirando o título do Brasil, acho que vou aplaudir tanto quanto se fosse um gol brasileiro.

O sujeito capaz dessa façanha é o baixinho Lionel Messi, que anda comendo a bola há tempos, e que nesta Copa, aos 22 de idade, vai ter a chance de mostrar a razão de sua presença neste planeta. Messi é uma figura. Aliás, o que nos atrai nos grandes jogadores (como nos grandes artistas) é a sua individualidade. Não há dois craques iguais. Mesmo craque de estilos semelhantes (digamos – Beckenbauer e Ademir da Guia) podem ser distinguidos de olhos fechados. Cada craque é um cara que se especializou ao máximo em explorar criativamente uma combinação improvável, rara, de qualidades físicas, técnicas e psicológicas.

Messi é baixinho, maciço, veloz, canhoto, excelente driblador, ótimo finalizador, um pulmão incansável, uma capacidade rara não somente de iniciar como de definir as jogadas de gol. Não apenas goleia com abundância, mas é expert em atrair sobre si três defensores e tocar a bola de biquinho para um companheiro desmarcado mandar para as redes. Dias atrás, em uma semana fez oito gols: 3 no Valência, 2 no Stuttgart e 3 no Saragoza. E faz dando a impressão ilusória de simplicidade, de que o gol já estava pronto e ele se limitou a executá-lo.

Messi revelou-se no Barcelona na época em que Ronaldinho Gaúcho fazia lá o que ele faz hoje. Há um lance dos dois que define, para mim, o que é ser craque. Num jogo difícil, o Barcelona cercava o adversário procurando uma brecha. Ronaldinho viu Messi livre na ponta esquerda, lançou, e Messi entrou na área e fez o gol. O juiz anulou. Dois minutos depois, o Gaúcho recebeu a bola na mesma posição anterior, repetiu o passe e Messi repetiu o gol. Parecia um replay. Depois, o garoto (devia ter uns 18 ou 19 naquele tempo) pulou nas costas do Gaúcho, que o carregou em triunfo pelo campo, com a torcida toda de pé. Seria tão bom ver os dois frente a frente nesta Copa.

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