sexta-feira, 30 de abril de 2010

1980) A praga do PPS (14.7.2009)



Não se passa um dia sem que eu receba um spam em forma de arquivo PPS (que imagino significar Power Point System ou coisa parecida). O Power Point é um programa do Windows que produz aquilo que antigamente chamávamos de “projeção de slides” – uma sucessão de imagens fixas e de textos, com ou sem acompanhamento de áudio. Um recurso que o programa torna facílimo produzir. Daí que nossas caixas de mensagens amanheçam todos os dias entupidas por PPSs de todos os tipos.

Não vou dizer que não olho. Olho de vez em quando, e com proveito. PPSs com fotos da natureza, de paisagens, de arquitetura e imagens deste ou daquele país, etc., costumam ser de uma beleza surpreendente. Imagino que o pessoal captura isso de saites como National Geographic. Prefiro aqueles que vêm sem trilha sonora, a qual costuma ser com melosos violinos, pianos dietéticos ou gravações padronizadas de folclores locais. Os PPSs de mensagem cristã eu pulo por cima; afinal já li e assimilei a Bíblia (embora ainda esteja atrasado nos Apócrifos). Os PPSs de mulheres peladas têm qualidade variável, mas se existe uma coisa fácil de obter hoje em dia na Internet é foto de mulher pelada. É mais rápido do que ver que horas são.

Um recurso que me irrita sempre é o fato de que o programa dá ao usuário diversas opções sobre a maneira como o texto vai ser adicionado. Em vez de simplesmente aparecer a foto e depois, sobre ela ou ao lado dela, aparecer o texto correspondente, criou-se um mecanismo teratológico que trata o texto como se as linhas fossem serpentinas e as letras confetes. Aparece uma foto interessante, mas o texto que a explica surge como se o computador estivesse bêbado. Uma linha desliza horizontalmente da direita para a esquerda, a linha seguinte faz o mesmo da esquerda para a direita... Ler uma coisa assim é um suplício.

Pior ainda é quando o engraçadinho faz com que as letras venham caindo de uma em uma do alto e se encaixando em suas posições. Quem faz isso lê pouco, ou lê “assoletrando”. Não perceberam que ninguém lê palavras letra-a-letra. Reconhecemos a forma inteira da palavra, quando já a conhecemos, sem atentar para os detalhes. É por isto que cometemos tantos erros ortográficos, porque não damos atenção ao detalhe, e sim ao conjunto. É por isto que também circulam por aí outras mensagens provando que podemos ler um texto em que as palavras estão escritas com erros, desde que se mantenham iguais a primeira e a última letra. Difereçnas peqeunas são ignroadas durnate a leitrua; as palarvas são reconecihdas pelo seu fomrato e pela probablidade estatítica de frequêcnia das letars.

Meu conselho à galera do PPS: deixem o leitor ler em paz. Não obriguem as letras a fazerem rodopios, piruetas, cambalhotas. Isto incomoda a vista, atrapalha a concentração... Equivale a telefonar para alguém junto de um liquidificador ligado. A menos que seja PPS de mulher pelada. Nesse caso, tanto faz, ninguém vai ler mesmo.

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