segunda-feira, 22 de março de 2010

1809) Segunda Divisão (26.12.2008)



As rodadas finais do Campeonato Brasileiro, merecidamente ganho pelo São Paulo, trouxeram choro e ranger de dentes a muitas torcidas. Todo ano cai um time grande. Ano passado foi o Corinthians, este ano foi o Vasco. A imprensa trata essas quedas como se fossem o fim do mundo. Existe um prazer sádico nos jornalistas em rodar nas mesas-redondas a faca que o campeonato empurrou. Não basta a derrota, o rebaixamento e a perda financeira resultante. É preciso pisar e repisar o desespero, clamar aos céus, fazer uma caça-às-bruxas em busca de culpados. Eu gosto de ver a cara hipócrita dos comentaristas na TV, olhando para a câmara e dizendo; “Porque um clube como o Vasco, com a tradição do Vasco, as glórias do Vasco...” Na hora do comercial, aposto que prorrompem em gargalhadas escarninhas.

Eu me lembro de um tempo em que time grande não caía. Dava-se um jeito! Em 1991 caiu o Grêmio. No ano seguinte, a CBF deu um jeito de subir para a Série A doze clubes, em vez de quatro, e o Grêmio retornou. O Fluminense também caiu, em 1996; conseguiu com a CBF uma “virada de tapete”. Em 1997 caiu de novo, e desta vez não teve jeito. Em 98, em vez de subir ou pelo menos ficar na Segundona, caiu para a Série C. Foi campeão, e depois houve um “convite” para que ele participasse da Taça João Havelange, que substituiu em 2000 o Campeonato Brasileiro. Convidado de volta à festa, o tricolor se fez de doido e não saiu mais.

Nos últimos anos tem havido uma certa moralização nessa bagunça. Quem cai, cai, e estamos conversados. Caiu Botafogo, caiu Palmeiras, caiu Atlético Mineiro. Nenhum deles foi à falência, pelo contrário. Aproveitaram a passagem pela Série B para recompor a equipe e se classificar de volta, o que não é nenhum mistério, porque na Segunda Divisão acabam enfrentando uma porção de equipes de menor tradição e de finanças ainda mais precárias do que as suas. Vejam o que fez o Corinthians este ano.

Cair para a Segundona é como, para um estudante, ser reprovado no fim do ano. Das duas uma: ou ele resolve cair na real e arregimentar todas as suas forças para decolar no ano seguinte, ou então afunda na areia-movediça da própria incompetência. Quem melhor compreende isto são as torcidas. Já ficou demonstrado em muitos exemplos recentes (Atlético Mineiro, Botafogo, Grêmio, Corinthians, etc.) que os primeiros jogos de um time pela Série B costumam ter um público muito maior do que os do ano anterior, quando ele estava na Primeira Divisão. A torcida entende. Em vez de fugir da raia, sabe que o momento é grave, e comparece.

Os leitores desta coluna sabem que torço pelo Treze e pelo Flamengo do Rio. Coisa curiosa: a Série B de 2009 vai ter a presença de dois dos meus adversários mais tradicionais, o Campinense e o Vasco da Gama. Torci de leve, com diplomacia, pela subida do Campinense, por ser um time da Paraíba. E também torci para que o Vasco não caísse. Neste último caso não adiantou (acho que faltou entusiasmo).

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