sábado, 6 de março de 2010

1753) High-tech paleolítico (23.10.2008)




(Vectra 286)

Um dos dias mais felizes da minha vida foi quando instalei no meu computador um Windows novo, já não lembro se foi o 95 ou o 98, e descobri que a partir daquela data poderia dar aos meus arquivos o nome que quisesse, sem ligar para o tamanho. 

Até então, se vocês se lembram, nome de arquivo só podia ter oito caracteres, o que enchia as minhas pastas com coisas intituladas MAQRASC1, REV-INF, etc. Que beleza era poder abrir um arquivo e dar-lhe o título “Resenha de Blade Runner para O Globo”.

Se bem me lembro, esse sistema vigorava porque os oito caracteres do título correspondem a um byte de memória, e memória era uma coisa preciosa. 

O disco rígido do meu primeiro computador, comprado em 1992, tinha 40 Mb. Durou tanto tempo que quando fui substituí-lo vieram dois técnicos na minha casa, para dar uma geral no computador. Quando um deles viu o HD, chamou o outro, que era uma espécie de assistente, mais jovem, e disse: “Lembra daquele HD que eu te falei outro dia, que não existe mais? Olha um aqui”. Hoje, eu tenho no meu HD arquivos com mais de 40 Mb.

Eu sou do tempo – pasmem! – em que quando a gente mandava um artigo ou um conto para uma revista na Europa eles pediam que mandasse uma cópia impressa e uma cópia digital, num disquete, e prometiam devolver o disquete, que era meio caro. Nunca falhou. Um mês depois, chegava o disquete de volta, pelo Correio, e não me perguntem quanto custava isso.

Durante meus três primeiros anos de uso de computador eu não tinha dinheiro para botar um Windows, que era caríssimo, e difícil de conseguir pirateado. Eu usava interface DOS, o que me foi muito útil, porque me acostumei a fazer todos os comandos através do teclado. 

Quando comecei a usar o mouse, descobri que ele servia para uma porção de coisas, mas ainda hoje prefiro o teclado. É mais rápido. Control-T, Control-C, Control-O, Control-V, Control-B, dou um nome e salvo. Pronto: criei uma cópia do que estava fazendo. 

Tem maneiras mais fáceis de fazer isso (“Salvar como”, e colocar um 01 ou 02 no final), mas eu já amanheci o dia, no tempo em que usava WordStar ou WordPerfect, tentando transferir blocos de texto de um arquivo para outro.

Tem gente que só sabe trabalhar com mouse. Eu acho mais fácil digitar um comando do que ficar acompanhando com meus olhos míopes aquele dedinho liliputiano, que para fazer efeito tem de ser clicado exatamente dentro de um quadradinho microscópico. 

Neal Stephenson tem um livro intitulado In the beginning was the command line em que ele defende o Linux e a independência do usuário. Para ele, as tais das interfaces gráficas vendem ao usuário uma aparente facilidade, mas na verdade o deixam impotente. 

O cara faz as coisas sem saber o que está fazendo, e quando acontece um problema ele está mais perdido do que ludita em oficina. O preço das interfaces bonitinhas é tirar do usuário qualquer possibilidade de interferência no sistema, até mesmo para salvar a própria vida.







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