sábado, 5 de dezembro de 2009

1400) Bin Laden está lá fora (8.9.2007)



Vi de passagem na banca de revistas a capa de uma Newsweek recente. Uma foto aérea magnífica, em preto-e-branco, granulada, mostrando do alto uma interminável cordilheira de montanhas abruptas que se sucedem em tamanho decrescente, como as vértebras de um monstro antediluviano cobertas por terra e matagal. E a legenda dizendo: “Ele Está Ali – a busca por Bin Laden continua”. É uma luta desigual e fascinante: o exército mais bem armado e de mais avançada tecnologia, pertencente ao país mais poderoso do mundo, procurando um homem que se esconde na paisagem.

Mesmo com a antipatia que tenho por Bin Laden, torço um pouco por ele. Podia ser até Paulo Maluf, eu ainda torceria um pouquinho. Se um dia o Íbis enfrentar a Seleção Brasileira, torcerei pelo Íbis. É um reflexo condicionado inculcado em nós por um senso ético confuso (tenho consciência disto) que nos faz sempre preferir um Davi a um Golias, independentemente de qual dos dois esteja “combatendo o bom combate”. Há um senso inato de proporção, de equilíbrio, de simetria (mais até do que um senso moral de justiça) que nos faz torcer pelo pequeno contra o grande.

Conseguirão os EUA prender Bin Laden? Não sei. Jamais duvidei que eles acabassem pegando Saddam Hussein. Saddam não quis fugir do Iraque, e era um sujeito odiado pela maioria da população. Alguém o entregou, como alguém entregou Lampião, alguém entregou Guevara, e alguém sempre entrega, por razões diferentes em cada caso, um sujeito que está na vulnerável situação de depender do sigilo de 100% das pessoas com quem se encontra. Cedo ou tarde, a corda “tora” em algum ponto.

A questão é: os americanos querem mesmo prender Bin Laden? Talvez não precisem deste pretexto para continuar ocupando o Afeganistão, e depois de Bin Laden deve haver uma lista de dezenas de foragidos igualmente importantes. Mas Bin Laden tornou-se um desses símbolos elusivos que o sujeito não sabe se é mais perigoso matar ou deixar vivo. A prisão, julgamento e enforcamento de Bin Laden terão uma repercussão enorme, mas esta contará pontos positivos e negativos para os carrascos, e eles sabem disto.

Por outro lado, a busca me lembra aquela antiga piada sobre o veterano médico do interior que decidiu tirar férias com a esposa e deixou o consultório a cargo do filho, também médico. Ao voltar, o filho lhe disse: “Curei a artrite do Coronel Fulano”. E o velho explodiu: “Seu idiota! Foi aquela artrite que pagou seus estudos!” E me lembra também um trecho do filme de Billy Wilder A Montanha dos 7 Abutres, em que o jornalista cínico e sensacionalista, interpretado por Kirk Douglas, conta como certa vez aquela cidadezinha ficou em polvorosa quando cinco cascavéis fugiram do circo. Quatro foram mortas ou capturadas, mas a última delas continuou à solta durante uma semana. Alguém lhe pergunta onde a cobra estava, e ele diz: “Na minha gaveta, na redação do jornal”. Por que não procuram Bin Laden lá dentro?

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