terça-feira, 13 de janeiro de 2009

0749) O ensino das ciências (12.8.2005)



Esta é uma questão que volta e meia retorna com força total (e mais ainda para quem tem filhos no colégio). Vale a pena mesmo estudar aquela xaropada toda? De que adianta saber de cor os elementos Monovalentes, Divalentes, Trivalentes e Tetravalentes? Algum dos caros leitores já precisou, na vida real, extrair uma raiz quadrada? Ou saber a diferença entre uma planta monocotiledônea e uma dicotiledônia, ou entre uma autótrofa e uma heterótrofa? Vocês lembram a fórmula de “x” que resolve uma equação do segundo grau? (Taí, essa eu lembro!).

Cada um de nós que é pai ou mãe já passou pela experiência de enfrentar um adolescente em patético desespero, perguntando: “Mas por que é que eu tenho que saber essas coisas? Será que eu vou precisar disso?” Minha geração foi uma geração privilegiada, porque quando chegávamos aos 16 anos terminávamos o antigo Curso Ginasial e tínhamos dois caminhos para escolher: o Curso Científico e o Curso Clássico. No Científico, iríamos estudar Física, Química, Biologia, Matemática, etc. No Clássico, as matérias seriam Latim, Filosofia, Sociologia, Geografia, História, etc. Eu não tinha a menor paciência nem o menor interesse pelas matérias do Científico, mas a escolha não era fácil, até porque corria à boca pequena que “fazer o Clássico era coisa de viado”. Graças a Deus fui reprovado na 3a. série ginasial, e com isto ganhei mais um ano para criar coragem.

E não é que eu detestasse a Ciência. Nessa época eu devorava livros de ficção científica à razão de um por dia, e tinha toda a curiosidade do mundo em saber qual o formato do Universo, se era possível viajar no Tempo, se existiam mesmo universos paralelos, se era possível interferir no mundo das partículas infinitamente pequenas... Naquele tempo não tinha Carl Sagan nem Stephen Hawking, infelizmente, mas só eu sei o quanto devo a livros como Nós e a Natureza de Paul Karlson ou O Livro da Natureza de Fritz Kahn, e a outros divulgadores científicos como George Gamow e Henry Thomas.

O que há é que o ensino das ciências no Colégio é uma massa enorme de informações a serem retidas na base do decoreba, e de fórmulas que devem ser exaustivamente praticadas para serem aplicadas como soluções “pré-moldadas” para quaisquer problemas. Coitados dos professores, os menos culpados por isto. O aluno quer passar, primeiro que tudo; e depois quer ter um diploma e conseguir resolver os problemas técnicos com que vai se deparar. O colégio não ensina a pensar a Ciência, questionar a Física, investigar a Química, explorar a Matemática. Nossos cursos secundários (e, ouso dizer, a maioria dos cursos universitários) são cursos técnicos, oficinas de qualificação de mão-de-obra técnica. Quando um garoto pergunta “para quê”, o pai não pode dizer: “Para entender o Universo e a Vida Humana”. Ele tem que dizer: “Pra ver se você se forma, e arranja um emprego melhorzinho do que o meu”.

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