sexta-feira, 7 de março de 2008

0082) Como escapar de uma anaconda (26.6.2003)



Recebo tudo quanto é de besteira pela Internet. Ofertas de Viagra pelo correio, ofertas de hipotecas a juros baixos, ofertas de férias gratuitas em Orlando. Recebo piada de loura, piada de bicha, piada de quanta gente precisa pra trocar uma lâmpada, piada de galinha atravessando rua. 

Recebo denúncia de criança sequestrada, corrente de criança leucêmica, mensagens de moribundo atribuídas a Jorge Luís Borges ou Garcia Márquez, oração para a Santa Que Ajuda Pessoas Míopes a Enfiar Linha na Agulha, mensagens de otimismo sem propósito, ofertas para depositar em minha conta bancária 250 milhões de dólares do ex-ministro da fazenda da Nigéria ou do Zimbábue... 

 Já recebi tanta besteira que, algum tempo atrás, resolvi mandar para alguns dos meus correspondentes o único texto que considerei realmente útil.

Chama-se “Como sobreviver ao ataque de uma anaconda” (“anaconda” é mais ou menos o mesmo que sucuri ou jibóia), e, ao que parece, tem sua origem no livro Os lugares mais perigosos do mundo, de Robert Young Pelton. 

Ele nos explica que a anaconda é uma das serpentes que mais matam no mundo, não porque seja venenosa, mas porque é a famosa quebra-ossos, que tem “aquele abraço” do qual nem mesmo o Incrível Hulk conseguiria se safar. Ocorre, no entanto, que, assim como o Hulk, a anaconda também tem seus pontos fracos, ou, forçando um pouco a metáfora, seu calcanhar de Aquiles.

Eis as instruções de Pelton: 

1) Não corra. A serpente é mais rápida do que o ser humano. 

2) Deite no chão ao comprido, braços apertados ao longo do corpo, pernas apertadas uma ao encontro da outra. 

3) Pressione o queixo de encontro ao peito para proteger o pescoço. 

4) A serpente vai deslizar sobre seu corpo, farejando-o. 

5) Não entre em pânico. 

6) A serpente começará a engolir primeiro os seus pés. 

7) Mantenha-se totalmente imóvel. Isto irá demorar bastante. 

 8) Quando a boca da serpente estiver mais ou menos à altura dos seus joelhos, pegue sua faca, estire o braço, enfie a lâmina na boca da serpente, entre o canto da boca e a sua perna. Com um movimento brusco, puxe a faca para cima. Isto decepará a cabeça da anaconda. 

 9) Certifique-se de que conduz uma faca consigo. 

10) Certifique-se de que a faca é bem afiada.

Parece o conselho dado pelo jagunço de Guimarães Rosa quando lhe pediram uma receita para um sujeito medroso ficar valente: “Basta degolar uma onça e beber o sangue dela, o cabra fica valente na hora...” 

Bem; fica o conselho. Até hoje nunca fui atacado por nenhuma serpente, e a única anaconda que conheço é a simpática Angela Anaconda dos filmes de animação no canal FoxKids. Mas me ocorreu, assim, durante uma madrugada insone, que as instruções acima valem para relacionamento com patrões (editoras, gravadoras, etc.), com os governos, com megacorporações multinacionais; valem para matrimônios sufocantes, mães e pais controladores, penitentes de mesa de bar... As possibilidades, como sempre, são infinitas.





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