Sou o Trocador de Estrelas Queimadas.
Aquelas de que ninguém sente falta,
mas é preciso manter brilhando, e se esforçar
para que haja um pouco de ordem no Universo.
Na noite seguinte, lá está ela. Triunfando
para ninguém além de si mesma
e deste operário que a trocou.
Um coqueiro faltou na praia?
Um colega já vem arrastando outro
pelas enormes raízes. Aos transeuntes
aquilo passa despercebido.
Estão conferindo seus celulares
enquanto nós, os roadies do cosmos,
pedimos licença e vamos passando.
Reconstruímos fachadas. Trazemos de volta
a praça omitida, o prédio faltante.
Corrigimos os erros de continuidade
de uma Realidade já de si precária,
e que não resiste a um exame,
a um questionamento,
a um dedo na ferida.
A Existência é uma ferida no Nada,
uma chaga que se espalha.
Seus resultados não passam
de balbucios, contradições,
curto-circuitos de incompletude;
mas alguém precisa
todo dia arredondar a Terra,
e encher o mar todas as noites.
