...e o mundo se remunda em redemunho,
turbilhão de manchetes impossíveis!
São outros patamares. Outros níveis.
Outras notícias – as mais esperadas,
as mais temidas, as encomendadas,
e a História se rasga e se remenda
na política vã desta fazenda
onde mandam o sobrenome, o dote,
o libambo, a manilha e o chicote –
que podem mais que a pena e a espada.
Abro os olhos: a Terra Devastada
nas pupilas, nas telas, monitores...
No rádio se revezam locutores
como enxerto-robô na carne morna.
É o tropel dos centauros, que retorna,
carpideiras uivantes nas colinas,
fervilhar das arraias assassinas
tilintar de ferrões do povo-inseto...
e a TV que me diz pra “deixar quieto”,
pois o mundo resolve-se a si mesmo.
Fico eu aqui, eu caramujo, eu lêsmo,
eu búzio na ilusão que vou ser lido,
me apegando ao meu sétimo sentido
para entender o caos que desabrocha.
Tinha razão o doido Glauber Rocha.
Na fazenda quem manda é o capataz:
os herdeiros consomem mais e mais
dos poços, das jazidas, dos filões,
e a cada dia partem mil vagões
no rumo dos castelos de ultramar.
Então... Querem saber? Vou levantar,
vou fazer um café, vou à janela,
vou dar bom-dia ao mundo que me vela,
que me cuida e pergunta se estou bem.
É matemático: outro ano vem,
mesmo eu não vendo, mesmo eu não estando,
os algarismos se reiterando
trazendo a sensação de algo novo;
e até comove a gente ver o povo
dizer: “É outro ano!... Agora vai!...”.
Minha esperança? Não enche um hai-kai.
Meu otimismo é um dedal e meio.
O apocalipse nuclear não veio
mas, quem sabe, seria boa idéia.
Ah! Que deus perdoou esta Pompéia
que mais que a outra merecia a lava?!
E o mundo a bomba acende, a tumba cava,
sob um pretexto unânime – o progresso,
o lucro, o dividendo e o sucesso,
e a forca, o fogo, o ferro aos dissidentes.
Café tomado – e eu escovo os dentes,
enxáguo a boca do mingau-das-almas.
Minha mãe, minha tia batem palmas,
“muito bem! um rapaz! gostei de ver!”
E quem outro é capaz de conceber
em jejum, dez cenários fim-do-mundo?
Quem é capaz, no ano moribundo,
de exumar as guarânias natalinas,
vinhos, passas, maçãs, bebidas finas,
presentes... e pavês presenciais?
São os problemas de quem vive em paz!
Outros vivem na guerra. Estou sabendo.
Mísseis caindo, e o bebê nascendo
ao mesmo tempo, a meio quarteirão.
E eu cá tremendo a sós, feito um poltrão...
É só a vida, com ou sem Natal!
Abraça alguém! Abraço é tão legal,
escreve, lê, escuta, vive, canta...
Quando o sol desce a noite se levanta;
quero comer uma canjica em junho...