& tudo indica
que o próximo Dilúvio será de água sanitária
& quando a
Censura proibir os vagalumes, soltem pirilampos
& a gente se
vicia em celular porque celular nos obedece instantaneamente
& escrever
bons versos nunca avalizou o caráter de ninguém
& tudo que eu
como, depois da Covid, está em preto-e-branco
& queria ter a
calma de um tigre, capaz de furar um sinal vermelho sem diminuir o passo
& a
possibilidade de um dicionário trilingue continua à espera de um exame objetivo
& meu preço
nem é muito alto, mas só me vendo a quem adivinhar, com exatidão de dígitos
& coração de
leão pode ser uma boa coisa, mas eu preferiria pernas de guepardo
& é aquele
tipo de jogador que prefere sofrer um pênalti do que fazer um gol
& certos
poetas têm a atitude do portador de uma mensagem em código, da qual conhecem a urgência,
mas não o significado
& a mente é um
castelo sem corredores mas cheio de passagens secretas
& não sei se
aprendo clarineta ou se compro um telescópio
& o negócio
agora é afinar o coro dos descontentes
& tem certas
mulheres que são dotadas daquele olhar de cartão vermelho
& não há
felicidade espiritual que resista a uma dor de dente
& mesmo um
jornal velho que está embrulhando peixe tem alguma informação que a gente não
sabia
& é
interessante como as pessoas sem caráter geralmente sabem que são assim, e se
sentem muito bem, obrigado
& o que se vê
é o conflito entre a Vetusta Ciência de Formalizar o Espírito das Leis contra a
Nobre Arte de Ludibriar a Arbitragem
& acompanhar a
Política pela imprensa é como acompanhar futebol pelo rádio
& a Verdade,
sem beleza, é utilitária e rude; a Beleza, sem verdade, é frívola e
desnecessária
& como é que
uma imagem do tamanho de um selo é capaz de encher uma sala?
& o impulso de
Tânatos não é o de desejar a morte, mas de não dar importância a ela
& a verdade é que quando as pessoas que se preparam
para o pior começam a ficar impacientes porque o pior demora a acontecer
& quem tem
dinheiro nem lembra que ele existe, e quem não tem não pensa noutra coisa
& o segredo da
vida é saber entrar e saber sair, saber falar e saber ouvir, saber subir e
saber descer
& não quero
parecer pessimista, mas a verdade é que nós ainda somos felizes, e não sabemos
& ninguém é
obrigado a ler o que não gosta, o que não aprova, o que não entende; cada um só
lê o que consegue ler
& ninguém me
tira da cabeça que “C.E.O.” é apenas uma maneira esnobe de dizer “sinhô”
& tu te tornas eternamente responsável pelo que os
teus orientandos publicam
& qualquer
coisa neste mundo pode ser provada com o auxílio de um único exemplo
& a gente só
deixa de tratar os filhos como bebês indefesos quando eles começam a nos tratar
como velhinhos defasados