O planeta de
Aldebarã-5 tem uma civilização influenciada pelos colonizadores
terrestres. Seu vocabulário exprime as características da natureza do
planeta e o seu modo de observar os fenômenos da psicologia e da cultura.
Confiram os verbetes abaixo, recolhidos, meio ao acaso, do Pequeno Dicionário
Interplanetário de Bolso.
“Queninodis”: o súbito reencontro, ao longo do dia, com alguma coisa (um nome, uma pessoa, um lugar, um objeto) com a qual havíamos sonhado na noite anterior, e esquecêramos por completo.
“Mossonheims”: cargo oficial posto em prática quando
ocorre um desentendimento entre duas famílias, ou dois grupos políticos; cada
um deles nomeia seu mossonheim para ir dialogar com o líder do grupo oposto e
trazer ao líder do seu próprio grupo as queixas e reivindicações do outro;
depois de aplainado o terreno por esse processo, os dois líderes se encontram
em pessoa para a mera formalização dos acordos.
“Dortrisse”: o intervalo noturno entre duas sessões de sono,
quando, após dormir por três ou quatro horas logo ao escurecer, as pessoas
acordam, e se entregam ao lazer, à conversa ou a alguma tarefa caseira leve, depois
da qual dormem novamente até amanhecer o dia.
“Serundy”: jogo de salão que consiste em fazer cada
pessoa, depois de sentadas em roda, escolher um objeto qualquer no aposento e o
segurar à vista de todos; em seguida, sorteia-se a pessoa que dará início a uma
história inventada de improviso, quando mais amalucada e improvável melhor, e
nessa sua invenção deverá incluir o objeto seguro por outra pessoa da sala, o
qual, ao ser finalmente referido, dará ocasião a muita risada e divertimento;
em seguida, passa a vez para a pessoa ao lado, que dá prosseguimento à
história, às improvisações, e à referência a outro objeto em poder de mais
alguém.
“Wanga-wanga”: bravatas ou gabolices que alguém faz meio
descuidadamente, sem nenhuma intenção mais grave, mas às vezes vê aquilo tomar uma
proporção inesperada, e é forçado a desmenti-las – ou pelo menos tentar
desmenti-las de modo convincente, o que muitas vezes não é mais possível.
“Valallini”: dieta à base de flores, mel e sementes que
serve para desintoxicar os noivos nos dias que antecedem o casamento, as
parturientes alguns dias antes do parto, e os administradores públicos antes dos
dias de votações decisivas.
“Andialas”: um tradicional sistema de repasses e
“terceirizações” de tarefas, trabalhos, projetos, etc., mediante o qual uma
pessoa, quando se desinteressa do uma tarefa da qual foi incumbido, pode
transferi-la para uma segunda pessoa com certos direitos e deveres; esta pessoa
pode fazer o mesmo com uma terceira, e esta com uma quarta, desde que fiquem
implícitos os níveis da transferência, que são chamados “andiala-um”,
“andiala-dois”, etc. Esse sistema cria uma condição de responsabilidade
recíproca entre todos os participantes.
“Wizz-nizz”: espécie de doce ou compota feito de fruta,
para o qual se prepara um creme especial feito com a casca da própria fruta,
moída e transformada em uma pasta que se deixa decantar em açúcar por longo
tempo; tipicamente, quando mais fresca a fruta e mais “curtido” o creme,
melhor.
“Cavonsy”: a sensação inexplicável que temos diante de um
pequeno fato do cotidiano que não entendemos ou não pudemos examinar direito; a
compulsão crescente de tirar a limpo essa dúvida; a sensação ominosa de que
seria melhor deixar tudo como está, porque a resposta pode nos acarretar um
prejuízo maior do que o desconhecimento.
“Famaldy”: um presente especial que se dá a uma pessoa
que completa uma idade especial, em geral redonda (60, 70, 80 anos...). Um caderno
é circulado em segredo entre amigos e parentes, e cada um tem direito a uma página,
não mais. E deixa ali uma frase, um verso, uma lembrança, um desenho, uma
colagem... No dia da festa, o aniversariante recebe o presente coletivo.
“Serruvun-pep”: pequenas faixas de borracha colorida que
algumas pessoas costumam pregar no teto do quarto de dormir, para que quando a
luz do sol da manhã, entrando por uma fresta específica, atingir aquele ponto,
indicar que está na hora de levantar.
“Caflant”: aquelas situações em que reencontramos uma
pessoa e, a certa altura, uma fala ou uma atitude de sua parte nos mostra que
não há mais entre nós tanta identificação ou cumplicidade quanto imaginávamos.
“Queninodis”: o súbito reencontro, ao longo do dia, com alguma coisa (um nome, uma pessoa, um lugar, um objeto) com a qual havíamos sonhado na noite anterior, e esquecêramos por completo.