& o único beco sem saída é a realidade
& nem adianta teorizar o romance, no virar da primeira página de qualquer livro mil conceitos já caducaram
& vou fazer de conta que foi de propósito, não, que foi por acaso, não, que foi uma grata surpresa, esta catástrofe final
& não posso respeitar um Deus que se faz lisonjear por sacripantas dessa qualidade
& o pior de perder a esperança é não poder voltar atrás pra ver onde ela caiu
& todo crime, por mais que se planeje, é cometido às pressas
& certas coisas no mundo só são explicáveis pelo fato de um prego precisar de um martelo para poder funcionar
& a esperança é um cheque sem fundos que uma pessoa passa para si mesma
& um artista, quando não está pescando no seco, está chovendo no molhado
& tem dias que cada palavra é escrita como se a gente estivesse dobrando um arame
& o álcool é o vício que não consegue articular seu nome
& era um cara tão poderoso que a cigana lia a mão dele para saber o futuro dela
& tem gente que vive procurando chifre em cabeça de cavalo, e pior é que é no espelho
& o que importa não é a marca da pistola, mas o lugar onde a bala acerta
& tem gente acendendo uma vela a Deus, mas comprada na mercearia do Diabo
& já desisti do futuro, só quero que me deixem aqui, no aconchego das minhas saudades
& o livre-arbítrio é uma carta branca, o pecado é um cartão vermelho
& se qualquer coisa pode ser traduzida em palavras ou em dinheiro, por que é tão difícil transformar aquelas neste?
& ninguém é tão visível quanto um cara com (digamos) uma venda preta nos olhos, e ninguém é tão invisível quanto ele mesmo depois que a retira
& viver é fazer de conta que o Inevitável nos surpreende e que o Inefável nos define
& aqui jaz aquele cujos versos foram escritos com água
& o blues é uma tristeza homeopática que à medida que se cura se realimenta
& se o Mediterrâneo invadisse o Saara não se lucraria um só hectare de terra
& ler é como entrar num táxi sem saber para onde o motorista vai nos levar
& um rato roendo um livro para se esconder dentro dele
& o jeito é viver sem seguro e aprender sem tutorial
& um dos perigos do raciocínio binário é quando começam a achar que um raciocínio ternário seria a solução
& ninguém atravessa duas pontes ao mesmo tempo
& política é como futebol no rádio, a gente tem que acreditar no que está sendo contado
& quando a gente acha que alguém sabe muita coisa sempre imagina que ele sabe muito mais
& todos os dias venho à rede social onde se servem venenos; cheio de esperança, alinho-me entre os bebedores
& a religião monoteísta não passa de uma monarquia virtual
& estou de saco cheio com gente sem competência tentando compensar com excesso de competitividade
& a juventude é aquele momento mágico no restaurante, em que a gente abre o cardápio
& certos indivíduos me dão a sensação de estar vendo um tapuru de terno e gravata
& e a alma fugiu-lhe do corpo como quem foge de uma casa em chamas
& um morto-vivo é alguém que foi dado como morto mas aparece vivo, e um vivo-morto é alguém oficialmente vivo, mas que para todos os efeitos já deixou de existir
& não brinquem com essas coisas: a História registra casos em que um mandato-tampão durou quatro décadas
& dinheiro é uma coisa que dá muita despesa
& quando você ia para as uvas eu já vinho
& às vezes é preciso a gente perder tudo que tinha para compreender que nunca teve nada
& ainda veremos guerras religiosas entre os partidários do Velho Testamento e os do Novo
& o mundo se moderniza mas permanece sempre o mesmo, sem bulha nem matinada