segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

4665) Contracapa de StreamYard (18.1.2021)



(Peter Kogler)

&   o único beco sem saída é a realidade
 
&   nem adianta teorizar o romance, no virar da primeira página de qualquer livro mil conceitos já caducaram
 
&   vou fazer de conta que foi de propósito, não, que foi por acaso, não, que foi uma grata surpresa, esta catástrofe final
 
&  não posso respeitar um Deus que se faz lisonjear por sacripantas dessa qualidade  
 
&   o pior de perder a esperança é não poder voltar atrás pra ver onde ela caiu
 
&   todo crime, por mais que se planeje, é cometido às pressas
 
&   certas coisas no mundo só são explicáveis pelo fato de um prego precisar de um martelo para poder funcionar
 
&   a esperança é um cheque sem fundos que uma pessoa passa para si mesma
 
&   um artista, quando não está pescando no seco, está chovendo no molhado
 
&   tem dias que cada palavra é escrita como se a gente estivesse dobrando um arame
 
&   o álcool é o vício que não consegue articular seu nome
 
&   era um cara tão poderoso que a cigana lia a mão dele para saber o futuro dela
 
&   tem gente que vive procurando chifre em cabeça de cavalo, e pior é que é no espelho
 
&   o que importa não é a marca da pistola, mas o lugar onde a bala acerta
 
&   tem gente acendendo uma vela a Deus, mas comprada na mercearia do Diabo
 
&   já desisti do futuro, só quero que me deixem aqui, no aconchego das minhas saudades
 
&   o livre-arbítrio é uma carta branca, o pecado é um cartão vermelho
 
&   se qualquer coisa pode ser traduzida em palavras ou em dinheiro, por que é tão difícil transformar aquelas neste?
 
&   ninguém é tão visível quanto um cara com (digamos) uma venda preta nos olhos, e ninguém é tão invisível quanto ele mesmo depois que a retira  
 
&   viver é fazer de conta que o Inevitável nos surpreende e que o Inefável nos define 
 
&   aqui jaz aquele cujos versos foram escritos com água
 
&   o blues é uma tristeza homeopática que à medida que se cura se realimenta  
 
&   se o Mediterrâneo invadisse o Saara não se lucraria um só hectare de terra
 
&   ler é como entrar num táxi sem saber para onde o motorista vai nos levar
 
&   um rato roendo um livro para se esconder dentro dele
 
&   o jeito é viver sem seguro e aprender sem tutorial
 
&   um dos perigos do raciocínio binário é quando começam a achar que um raciocínio ternário seria a solução  
 
&   ninguém atravessa duas pontes ao mesmo tempo 
 
&   política é como futebol no rádio, a gente tem que acreditar no que está sendo contado  
 
&   quando a gente acha que alguém sabe muita coisa sempre imagina que ele sabe muito mais
 
&   todos os dias venho à rede social onde se servem venenos; cheio de esperança, alinho-me entre os bebedores
 
&   a religião monoteísta não passa de uma monarquia virtual
 
&   estou de saco cheio com gente sem competência tentando compensar com excesso de competitividade
 
&   a juventude é aquele momento mágico no restaurante, em que a gente abre o cardápio
 
&   certos indivíduos me dão a sensação de estar vendo um tapuru de terno e gravata
 
&   e a alma fugiu-lhe do corpo como quem foge de uma casa em chamas
 
&   um morto-vivo é alguém que foi dado como morto mas aparece vivo, e um vivo-morto é alguém oficialmente vivo, mas que para todos os efeitos já deixou de existir 
 
&   não brinquem com essas coisas: a História registra casos em que um mandato-tampão durou quatro décadas
 
&   dinheiro é uma coisa que dá muita despesa
 
&   quando você ia para as uvas eu já vinho
 
&   às vezes é preciso a gente perder tudo que tinha para compreender que nunca teve nada  
 
&   ainda veremos guerras religiosas entre os partidários do Velho Testamento e os do Novo
 
&   o mundo se moderniza mas permanece sempre o mesmo, sem bulha nem matinada