quinta-feira, 6 de setembro de 2018

4383) Dez grandes jogos do Treze (6.8.2018)




(time do Treze, com Garrincha)


Mário Vinicius Carneiro é hoje o historiador do Treze Futebol Clube, posto que herdou informalmente do inesquecível Severino Marinho Leite. Seu livro Treze Futebol Clube: 80 Anos de História (A União, 2006) é uma obra imensa e preciosa, tornada minúscula apenas diante da gigantesca tarefa a que se propôs: contar a história do clube mais querido e mais heróico da Paraíba.

Ele me pede, para outro trabalho, um breve relato de “dez jogos inesquecíveis” do Galo. Eu poderia enumerar aqui dez vitórias arrasadoras, entre milhares. Mas prefiro destacar jogos que, independente do seu resultado, tenham sido marcantes na minha história pessoal como torcedor.

1)
Durante muitos anos eu, garoto ainda, lamentei não ter podido assistir a partida de 6 de janeiro de 1961 quando o Treze empatou em 1x1 com o Dínamo, de Bucarest. Consta que foi o primeiro jogo internacional realizado em Campina Grande. Não foi o primeiro jogo internacional do Treze: em 16 de dezembro de 1951 o Galo havia perdido de 3x2 para o Vélez Sarsfield (Argentina), num amistoso em João Pessoa. O Dínamo ficou sendo uma espécie de lenda em Campina; o pessoal dizia que no primeiro tempo o sol forte castigou os romenos, mas quando o sol foi esfriando eles botaram pra correr e deram uma prensa no time do Galo.

2)
Outro jogo histórico foi quando o Treze enfrentou a Seleção da Romênia no Estádio Presidente Vargas, em 8 de fevereiro de 1968. O time romeno era mais ou menos o mesmo que dois anos depois seria derrotado pelo Brasil na Copa do Mundo do México. O grande detalhe esse jogo foi a presença de Garrincha jogando pelo Galo. Nessa época, o grande Mané vivia viajando pelo Brasil, jogando partidas por clubes de qualquer lugar, por uns trocados. Gordo e sem muita força para driblar, mas (segundo os que tomaram umas e outras com ele) simpático e bem humorado. Só fez uma jogada certa: pegou a bola quase na lateral do campo e fez um cruzamento longo na cabeça de outro atacante, e o Estádio inteiro ficou de pé ao mesmo tempo.

3)
Não posso deixar de fora o dia histórico em que o Galo se tornou campeão paraibano invicto de 1966, derrotando o Campinense por 1x0, gol de Cocó. O presidente do Galo era Edvaldo do Ó, também reitor da Universidade Regional , que costumava bater de frente com quem se atravessasse. O Treze nesse ano rompeu com a imprensa e editou seu próprio jornal (“A Tarde”); as rádios eram proibidas de transmitir os jogos no Estádio Presidente Vargas. Um ano antes, quando o campeonato de 1965 ainda estava em curso, ele havia anunciado pelo rádio: “Este campeonato já está perdido, mas eu prometo à torcida que no ano que vem o Treze vai ser campeão invicto”.

4)
Tem jogos que nem são tão importantes assim, mas a gente não esquece. Por volta de 1976 Treze e Campinense estavam numa fase de grandes contratações. O Galo tinha contratado desde o ano anterior o meia Soares e o atacante João Paulo. Foi marcado um amistoso no Amigão, uma espécie de caça-níquel de pré-temporada, e o Treze derrotou o Campinense por 2x0, gols de Soares e João Paulo. A imprensa rubronegra estrilou, queixando-se de que os reforços do time Raposa não tinham chegado a tempo para o jogo. E foi marcada uma partida revanche para a semana seguinte, no mesmo local. E dessa vez o Campinense entrou completo, com todas as novas estrelas reluzindo. E o Treze ganhou de 2x0, gols de Soares e João Paulo. Foi o famoso “jogo replay”.

5)
Em 8 de dezembro de 1974, um jogo histórico do Galo no antigo Estádio Leonardo da Silveira, na capital. O Treze precisava de uma vitória sobre o Botafogo para conquistar o quarto e último turno de um campeonato onde o Campinense já ganhara os três primeiros. A BR-230 ficou congestionada nesse dia de tantos ônibus e carros partindo para João Pessoa. A torcida alvinegra invadiu o Estádio e vibrou do começo ao fim com a vitória por 2x1, gols de Fernando Canguru de cabeça e Vandinho. Foi um jogo literalmente “ganho pela torcida”.

6)
Nessa mesma época, o Treze inaugurou os refletores do Estádio Amigão num amistoso com o Flamengo carioca, em 13 de agosto de 1975. Isso foi no auge do meu envolvimento como torcedor. Lembro que passei a noite da véspera nos fundos do Cine Babilônia (cujo gerente, Luiz Teixeira, era trezeano autêntico), dando instruções ao pintor de cartazes (cujo nome não lembro agora) para pintar as faixas que íamos levar no dia seguinte, das quais só lembro os dizeres de uma: “O Treze saúda a imprensa, / testemunha da sua História”. Com a bola rolando, o Treze abriu o placar logo no início com João Paulo, e o Flamengo virou com dois gols de Zico, vencendo por 2x1.

7)
Seria meio ufanista registrar como inesquecíveis apenas as vitórias. As derrotas também são. Vou escolher como exemplo a da decisão do Campeonato Paraibano em 8 de fevereiro de 1965, um jogo noturno no “Plínio Lemos” (o estádio do Campinense). O Campinense ganhou por 2x1, de virada, com um jogador a menos (Zé Preto foi expulso no 1º. tempo), com um gol de cabeça de Zé Luiz. Três anos depois eu estava trabalhando na Reitoria da FURNe com Zé Luiz, e disse a ele que jamais o perdoaria por aquele gol, ao que ele deu uma grande gargalhada (pois agora já estava jogando no Treze.) Naquela “noche triste”, ensopei três travesseiros de choro.

8.
Não foi propriamente um jogo, mas ficou na história. Em 1974 o Treze estava há não sei quantos jogos sem ganhar do Campinense, um “tabu” que já durava mais de um ano. Muita coisa, considerando-se que em um ano os “maiorais” jogam várias vezes entre si. E então veio o “Torneio Início” do Campeonato Paraibano, um costume que não existe mais, onde os todos os times do campeonato disputam partidas de 15 ou 20 minutos em 2 tempos, decididas nos pênaltis em caso de empate. Nesse ano o Treze venceu o Guarabira, o Botafogo-PB e na decisão o Campinense, todos pelo placar de 2x0. Foi esse jogo que revelou o artilheiro Fernando Canguru, que marcou os 2 gols da decisão e virou grande ídolo do Galo.

9.
Tentei me lembrar de alguma grande goleada, porque goleada é sempre uma festa. E me veio à memória um período de uns dois meses, entre julho e agosto de 1973, em que o Treze aplicou uma série de goleadas em times paraibanos: 8x1 no Santos (de João Pessoa), 8x0 no Esporte (de Patos), 8x1 no Guarabira e 10x0 no Santa Cruz (de Santa Rita). Nessa época, eu assistia todos os jogos na arquibancada atrás do gol do portão de entrada, e era uma festa. Quando o Treze pegava a bola e partia em nossa direção, começava um coro frenético: “Lá vem, goleiro! Lá vem!”  E era um bombardeio, porque tínhamos um ataque muito bom, com Assis Paraíba, Vandinho, Zé Pequeno, Haroldo e outros. Quando a “carga da brigada ligeira” partia e a arquibancada ficava toda de pé, era uma beleza, nunca me diverti tanto.


10.
E para não ficarmos apenas nos jogos da antiga, registro um que curiosamente vi na tela do computador, poucas semanas atrás: Caxias 1x3 Treze, em Caxias do Sul, quando o Treze conseguiu a ascensão para a série C do Brasileirão. Uma partida impecável do Galo, que sofreu o gol de abertura, empatou ainda no primeiro tempo, virou no começo do segundo e fechou-a-tampa no finzinho com um gol sensacional de contra-ataque.


Cada jogo do Galo é uma página da História!  Amar um time de futebol é ser casado com o Imprevisível e virar sócio do Acaso. Eu vivo dizendo que larguei o vício, e de repente olha eu aqui.


(Esta crônica foi publicada no meu livro "A Fonte dos Relâmpagos", Editora Arribaçã, Cajazeiras, 2022)