(Emma Coats)
Volta e meia
estou aqui comentando conselhos narrativos de Emma Coats, roteirista da Pixar
que vive tuitando pequenas dicas. Alguns roteiristas curtem, alguns literatos
acham meio plebeu ficar usando o cinema norte-americano como referência para a
literatura. Ora, a arte da narrativa é algo que corta transversalmente tudo:
literatura, cinema, teatro, histórias em quadrinhos, poema épico... A Narrativa
tem certas regras topológicas internas que independem da linguagem utilizada.
Contar uma história é uma arte transversal.
Nem toda regra
se aplica a tudo, mas quanto mais atentarmos para elas mais perto estaremos de
entender como se conta uma história. Estou falando de entender intuitivamente:
aquele entendimento que vem de muita informação prática acumulada e que nos faz
perceber de imediato o melhor caminho. É assim que um mestre de xadrez olha uma
posição no tabuleiro e rapidamente elimina algunas dezenas de milhões de
possibilidades nulas, para se concentrar na meia dúzia que podem dar-um-caldo.
Diz Emma: “Quando
você estiver bloqueado, sem saber como avançar no enredo, faça uma lista das
coisas que NÃO aconteceriam em seguida. Muitas vezes isso vai fazer aparecer as
idéias para desencalhar sua história.” Esse conselho é hábil, porque quando
queremos saber apenas o que DEVE acontecer, isso põe um peso muito grande na
lógica, nas relações causa-e-efeito. Ficamos mais presos à explicação da
história do que à dinâmica viva da história. E muitas vezes acabamos derivando
para a região de alta redundância narrativa. Aquela guinada plenamente
justificada mas que faz o leitor pensar: “Oi, era só isso?”.
Pensar no que
não deve acontecer significa abrir diante de si mesmo todo o leque de opções da
história. Se você admite que algo não deve acontecer aos personagens naquele
momento é porque a narrativa está com um viés, com uma direção que precisa ser
seguida. Às vezes a gente não percebe esse viés, está escrevendo somente pelo
prazer de criar os episódios isolados, mas esses episódios podem estar pendendo
a história numa direção geral que a gente não percebe.