Em certo momento na história das guerras e conspirações internacionais, já no século 20, o mundo leitor se deu conta da existência de espiões. Como profissão já existia desde a antiguidade, certamente. Só que ainda não tinha toda uma literatura dedicada a reimaginar suas atividades.
O pico de sucesso foi com James Bond, mas um sucesso tal condena um gênero à auto-paródia e à morte. Tinha que aparecer um gênero novo, que retratasse nossa época, ou pelo menos as décadas finais do século 20.
Depois do espião, surgiu agora o analista de riscos.
Quem é essa figura ubíqua, anti-heróica, essa silhueta cinzentamente mainstream? São os personagens principais de The Names (1982), de Don DeLillo, um romance que transcorre em sua maior parte na Grécia.
James Axton, o narrador, é um analista de riscos para empresas norte-americanas no Oriente. Ele e seus amigos, que são banqueiros, consultores, assessores governamentais, ficam pulando de país em país, desenraizados, estranhados, vivendo sozinhos ou com a família em apartamentos onde, mal começam a se sentir confortáveis, têm que desmanchar tudo e mudar para outro país, ainda mais indisciplinado, e de idioma imprevisível.
Quem é essa figura ubíqua, anti-heróica, essa silhueta cinzentamente mainstream? São os personagens principais de The Names (1982), de Don DeLillo, um romance que transcorre em sua maior parte na Grécia.
James Axton, o narrador, é um analista de riscos para empresas norte-americanas no Oriente. Ele e seus amigos, que são banqueiros, consultores, assessores governamentais, ficam pulando de país em país, desenraizados, estranhados, vivendo sozinhos ou com a família em apartamentos onde, mal começam a se sentir confortáveis, têm que desmanchar tudo e mudar para outro país, ainda mais indisciplinado, e de idioma imprevisível.
No meio de tudo isso, Axton e seus amigos descobrem a
existência de um estranho culto, um grupo de pessoas que pratica assassinatos
aparentemente rituais, por nenhum motivo aparente, a não ser o crime em si e
certos detalhes externos a ele.
DeLillo tem um narrador excepcional neste livro; Axton é de
uma fluência espantosa, principalmente quando está sendo mau caráter (como na
sedução da esposa de um desconhecido, durante uma noitada). Ele e seus amigos
comparam países como quem compara aeroportos. Vivem alerta em relação à
violência local, mas têm a mais pura das certezas de que são alvos somente por
sua nacionalidade, porque na verdade não têm nada do que se recriminar.
Não são espiões. São analistas de risco: dos seus relatórios emergirá, a milhares de quilômetros, um modelo informático de um país produzido pelo conjunto das interpretações pessoais de cada um. E decisões cruciais serão tomadas sobre o futuro dos gregos indefesos (o livro, é bom avisar, é de 1982).
Não são espiões. São analistas de risco: dos seus relatórios emergirá, a milhares de quilômetros, um modelo informático de um país produzido pelo conjunto das interpretações pessoais de cada um. E decisões cruciais serão tomadas sobre o futuro dos gregos indefesos (o livro, é bom avisar, é de 1982).
Os personagens deste livro, com todo o brilhantismo e espirituosidade dos seus diálogos, são cúmplices distraídos do que lhes acontece. Seu Olimpo literário é o mesmo dos megaempresários de Cosmopolis, ou da trilogia “Blue Ant” de William Gibson.