(David Bowie lendo sobre Buster Keaton)
Já disseram (e desmentiram) tudo que eu poderia dizer sobre
David Bowie, então não me restou nada a contribuir senão comentar alguns
títulos (os que li, ou que tenho para consulta) da lista dos seus 75 livros
formadores, reproduzida numa das minhas páginas favoritas, Brain Pickings, de
Maria Popova (aqui: http://tinyurl.com/gluf5rj).
A inglesidade de Bowie, sua essência de rapaz londrino, fica
mais nítida na minha percepção quando o vejo citando livros como O Outsider (1956) de Colin Wilson, uma das bíblias dos “angry young men” daquela década, e
o obscuro romance de Keith Waterhouse, Billy Liar (1959), do qual foi
extraído um dos meus dez filmes favoritos, dirigido por John Schlesinger. Uma
inglesidade que me parece reforçada por sua valorização de George Orwell
(1984, Inside the Whale and Other Essays).
Mas foi o choque com a cultura pop norte-americana que
transformou David em Bowie, e este caso de amor de mais de meio século me
parece bem refletido quando ele enumera On the road (1957) de Jack Kerouac, A Sangue Frio (1965) de Truman Capote, Lolita (1955) de Nabokov, o póstumo
e semi-obscuro A Confederacy of Dunces (1980) de John Kennedy Toole e os
ensaios sobre o espírito do rock reunidos por Greil Marcus em Mystery Train (1975). São diferentes faces da América fascinante e transgressiva, a América
que se acha representante de todas as Américas, a América ensolarada do rock e
a noturna do jazz.
Os interesses de Bowie pela psicologia se refletem na sua
escolha de O Eu Dividido de R. D. Laing (que li numa antiga edição da Ed.
Vozes) e de The Origins of Consciousness in the Breakdown of the Bicameral
Mind (1976) de Julian Jaynes, livro que me foi indicado em outra obra de Colin
Wilson. Jaynes estuda o caráter “dividido”, quase esquizoide, da consciência
humana, capaz de se ver por dentro e por fora ao mesmo tempo, como se cada um
de nós fosse dois, constantemente se vigiando, se interferindo, se ajudando, se
sabotando.