(Edf. Niemeyer, Belo Horizonte)
Eu me lembro dos doces de leite cortados em forma de losango
que a gente comprava no balcão dos botequins. Eu me lembro de quando tiraram as
cabeças dos políticos que ornavam a Praça Sete e as colocaram no Parque, junto
a uma quadra, onde o pessoal chutava e a bola rebatia nas cabeças das estátuas.
Eu me lembro que numa sala da Escola de Cinema havia rolos e mais rolos do
copião de “Terra em Transe”, de onde cansei de cortar fotogramas, e vinte anos
depois a imprensa do Rio ficou sabendo desse material e celebrou a descoberta.
Eu me lembro que havia um consenso entre os estudantes da
Católica que o melhor bandejão era o da escola de Arquitetura da Federal, que
ficava numa esquina da rua Paraíba. Eu me lembro dos militantes da TFP andando
pela cidade, erguendo seus estandartes vermelhos com leões dourados e bradando
nos megafones. Eu me lembro da placa onde está escrito: “Da vida social / na
porfiada liça / ao lado do dever / e ao lado da justiça.”
Eu me lembro do dia em que Chacrinha foi fazer uma palestra
no diretório dos estudantes e disse que as chacretes eram “escolhidas a dedo”.
Eu me lembro da sala de projeção da Escola de Cinema, que ficava no subsolo do
edifício e era chamada A Cinematoca. Eu me lembro do meu desnorteamento inicial
quando eu pensava que as ruas do centro eram paralelas, e às vezes as ruas iam
se distanciando à medida que a gente avançava numa delas.
Eu me lembro das estátuas na prefeitura, na Av. Afonso Pena,
dos três homens suportando colunas sobre os ombros, às quais dediquei um poema
(ainda estão lá). Eu me lembro que o primeiro filme que vi na cidade foi “Romeu
e Julieta” de Zeffirelli, no Cine Acaiaca. Eu me lembro que antes de ir morar
em BH eu vi na Enciclopédia Barsa uma foto do Edifício Niemeyer, e ao chegar lá
descobri que a Escola de Cinema ficava bem em frente dele. Eu me lembro da
minha confusão ao descobrir que os mineiros chamam mungunzá de canjica.