Como se criam as palavras novas? Muita gente tem o que eu
chamo a visão Stalinista de como a língua evolui. Para eles, a evolução da
língua é uma atividade coordenada pelo Estado, através de gramáticos e
dicionaristas. Os gramáticos criam as leis de trânsito do idioma, decretando o
que é permitido e o que é proibido fazer. E os dicionaristas fazem uma espécie
de recenseamento das palavras do idioma, carimbando as que têm existência
oficialmente reconhecida (e significado explicado no verbete) e têm autorização
de uso.
Só que não. Os gramáticos administram uma pressão enorme que
a língua sofre por parte de usuários que precisam desobedecer as regras em
benefício da expressividade, ou da rapidez, ou da clareza. Ou mesmo devido a
defeitos deles mesmos, que às vezes a entendem mal e usam seus recursos meio às
cegas, sem perceber como poderiam aproveitá-los melhor. O povo é o criador da
língua, mas o povo é um polvo de mil tentáculos, cada qual atarefado em
resolver seu problema imediato e sem ligar para o conjunto da obra. O povo
tanto produz obras-primas de inventividade quanto catástrofes verbais de
pensamento confuso.
O dr. Castro Lopes (1827-1901) foi um desses idealistas
eruditos que queria corrigir sozinho os erros do povo brasileiro, e um dos
maiores erros, no julgamento dele, era a aceitação de palavras francesas (isto
foi há cem anos, quando a França era quem mandava em nossa cultura dominante),
palavras como chofer, abajur, menu, garagem, ou palavras inglesas como futebol
etc. Recorrendo às fontes mais
profundas do idioma (o latim e o grego), o doutor propunha uma série de
palavras novas. Para abajur, ele propunha “lucivelo”, que traz a mesma idéia de
uma luz sendo parcialmente vedada. Para futebol, sugeriu “ludopédio”, que
significa “brincadeira com os pés”.
Além de outras palavras que Guimarães Rosa, num dos prefácios de Tutaméia (1967), enumera, divertindo-se: protofonia, ancenúbio, nasóculos,
preconício...