Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
3905) Contracapa de gif (29.8.2015)
(ilustração: Marcelo Grassmann)
& é mais fácil esconder um incêndio da vizinhança do que uma doença da família & minha cabeça é um jogo de basquete onde a todo instante uma das duas opções de ação passa à frente do placar & o verdadeiro pintor está somente ajudando a tinta a dizer alguma coisa & uma bússola não dá opinião nem emite juízos de valor & a ciência admite, consternada, que qualquer polvo é mais inteligente do que qualquer povo & suponhamos que alguém lhe oferecesse um dia no paraíso e outro no inferno, alternadamente? & um dia inventaremos plantas de plástico capazes de brotar e de crescer sozinhas & tem noites que eu durmo entre almofadas de pedra e lençóis de lixa & um navio olhando lá de longe o porto de uma cidade em quarentena & como era bom se existisse um botão-de-ligar-e-desligar para cada coisa & eles compram arte popular mas se o artista lhes batesse à porta não lhe ofereceriam sequer um café com pão & um livro fechado é uma moeda girando, esperando que alguém o leia para tombar e mostrar o que é & se é para rejeitar o Halloween vamos mandar embora junto o Natal & tem horas em que tudo parece um carnaval de cegos, uma debandada de sonâmbulos & quem espera encontrar a cadeira à sua espera na volta não entende nem de voltas nem de cadeiras & se o chão é enladeirado um banco de praça tem que ser torto para poder ficar reto & é bom não confundir um mero crepúsculo individual com o fim-do-mundo coletivo & a explosão dormindo na granada e acordando de mau humor & às vezes é mais útil ser destruidor de clichês do que ser formador de opinião & quando o diretor diz “luz, câmera, ação” todo planejamento vai pro espaço e o mundo recomeça a andar por si & os objetos são muito fiéis a si mesmos quando deixados quietos & quando o corpo começa a doer assim do-nada é hora de cuidar da alma & na fila dos livros para leitura a vez é sempre de quem chegou por último & existem fãs que são mais fãs de sua atividade-de-fã do que do artista que dizem admirar & aqueles dias em que uma canção antiga começa a rodar em loop na cabeça da gente como um besouro tentando atravessar o vidro da janela & existem palavras-paletó que têm sinônimos perfeitamente camisa-esporte & o mundo é uma torneira aberta, o cérebro da gente a panela cheia & como se fosse um barbeador elétrico querendo depilar um urso enfurecido & a partitura preserva o esqueleto da música, o artista fornece carne e sangue na hora da execução & o futebol está voltando a ser o esporte-para-os-ricos que era quando começou & só é amor ou ódio quando é idéia fixa, insônia, exaltação sem propósito, repetição obstinada &