Jorge Luís Borges ironizava a expressão “viagens espaciais”,
dizendo que toda viagem, mesmo para o subúrbio, é uma viagem espacial, pois
acontece no espaço. Era o mesmo (dizia ele) que dizer “substâncias químicas”.
Nossas viagens espaciais dependem, em grandíssima parte, não apenas dos
veículos e dos combustíveis de que dispomos, como também do modo como
entendemos o espaço, como avaliamos o espaço que se estende à nossa volta.
Em Orlando, na Flórida, foi divulgada a foto aérea de duas
residências que estão em espaços contíguos e ao mesmo tempo estão a cerca de
dez quilômetros de distância. As casas estão fundo-a-fundo, viradas para ruas
diferentes. Uma pessoa de uma delas pode ir para seu quintal ou pátio traseiro
e passar para o quintal da outra casa. Mas se ela quiser ir visitar esses
vizinhos de carro vai ter que sair pela rua da frente, e, seguindo a mão e
obedecendo aos cruzamentos, terá que dar uma volta de dez quilômetros, a menor
distância possível a ser percorrida de carro.
O espaço é um só, do ponto de vista físico, mas os nossos
deslocamentos não estão sujeitos apenas ao lado físico, eles têm que passar
pelo filtro de como organizamos nossas maneiras de percorrer esse espaço.
Razões de urbanismo, engenharia de trânsito, etc., fazem com que os carros
precisem se deslocar em canais de espaço muito específicos. Além dos obstáculos
físicos, como os prédios, ele encontra obstáculos conceituais, como uma rua em
contra-mão ou um gramado.
O exemplo dessas casas em Orlando é uma possível metáfora do
que a ciência e a FC chamam de “buracos de minhoca” ou “wormholes”. São atalhos no espaço onde é possível passar
através de pontos específicos, evitando a volta de dez quilômetros e chegando
direto à casa vizinha. Podemos também pegar uma folha de papel, fazemos duas
marcas, distantes uma da outra, e depois dobramos o papel, colocando as duas
marcas em contato. Com isso, encurtamos a distância ao amassar o papel, mas
para isso precisamos de uma dimensão extra. (Supõe-se que a folha é uma
superfície sem espessura, apenas bidimensional).