Conta-se que a cidade de Budapeste sofreu uma epidemia de suicídios nas décadas após a I Guerra Mundial. Assim como a praga de ratos que assaltou o vilarejo alemão de Hamelin, que só se salvou com a intervenção de um misterioso flautista, houve, digamos, uma praga de pensamentos sombrios que se infiltrou em Budapeste por todas as fendas, deixando as pessoas abatidas, taciturnas, depressivas.
A devastação da guerra teve seu papel, mas enquanto outras
cidades húngaras logo trataram de se reconstruir e retomar suas vidas,
Budapeste mergulhou cada vez mais numa “bad trip” negativista. E os suicídios
proliferavam. Havia barcos de patrulha permanentemente de vigia na proximidade
das pontes, para resgatar as pessoas que se jogavam nas águas do Danubio.
Alguns deram como causa dessa onda de desespero uma canção
muito popular na época, “Szomorú Vasárnap” (“Domingo Soturno”), composta por
Reszô Seress e lançada em 1933. (Aqui, uma versão, com legendas em português: http://tinyurl.com/ndqn8kd). A canção
ficou ainda mais popular quando em 1941 Billie Holliday a gravou em inglês,
mesmo mudando a letra para um final otimista. (Aqui: http://tinyurl.com/pthrac6). É uma canção
gótica, sombria, vazia de fé na vida e na humanidade. Chegou a ser banida por
algumas rádios. O compositor e sua namorada também se suicidaram.
Outra versão diz que os suicídios não foram tantos e foram
mera coincidência; a canção teria apenas se valido deles para lançar uma
campanha de marketing. Em todo caso, surgiu uma reação quando foi criado, meio
por brincadeira, o “Clube do Sorriso”, para trazer a alegria de volta à cidade.
(A matéria original, com fotos, está aqui: http://tinyurl.com/ky8jqpn).
Havia cursos de “como sorrir”, estudos sobre o sorriso da Mona Lisa ou de
Roosevelt ou de Clark Gable, e as pessoas começaram a fabricar e distribuir
máscaras artesanais com uma boca sorrindo para ser colocada por cima da boca
verdadeira.